Confesso aos estimados leitores do Estação Armênia que acredito ser esta uma das matérias escritas por mim que mais senti orgulho em transmitir. Entretanto, esse orgulho vem acompanhado de temor, sofrimento e tristeza.
O referido artigo vem contar sobre um precedente aberto recentemente pelo parlamentar turco de origem armênia Garabed (Garo) Paylan, eleito pelo Partido Democrático dos Povos (HDP, na sigla em turco), em 2015 junto a outros dois políticos de origem armênia (relembre aqui).
Garo fez um corajoso e nobre discurso no Parlamento da Turquia na noite de 21 de abril de 2016: o parlamentar utilizou a oportunidade para citar nominalmente os 13 deputados armênios do Parlamento Otomano que foram presos e assassinados na noite de 24 de abril de 1915.
Além de citar os nomes dos deputados, o parlamentar também fez referência ao local de nascimento e mostrou fotos de cada um dos armênios que faziam parte do Parlamento, trazendo de volta à vida aqueles que foram as primeiras vítimas do Genocídio Armênio junto a mais de 200 outros professores, médicos, jornalistas armênios em Constantinopla (atual Istambul), no que foi a eliminação do centro intelectual dos armênios no Império Otomano. Após o massacre dos intelectuais e deputados naquela fatídica noite, há mais de cem anos, a Turquia começou o plano de extermínio por toda a Anatólia, deixando os armênios no interior do império sufocados e sem que a comunidade internacional ouvisse suas vozes.
Em seu discurso, Paylan leu os nomes de Krikor Zohrab (Istambul), Bedros Haladjian (Istambul), Nazaret Daghavarian (Sivas), Garabed Pashaian (Sivas), Ohannes Seringiulian (Erzurum), Onnik Tersekian (Van), Hampartsum Boyadjian (Kozan), Vahan Papazian (Van), Hagop Babikian (Tekirdağ), Karekin Pastermadjian (Erzurum), Kegham Der Garabedian (Mush), Hagop Boyadjian (Tekirdağ) e Artin Boshgezenian (Aleppo). Paylan também detalhou o destino de cada político armênio durante o Genocídio Armênio (saiba mais, clique aqui).
Ao fazer uso da palavra, Paylan iniciou com a saudação em armênio “Parev tsez”, característica adotada pelo parlamentar desde que foi eleito. Garo também condenou o assassinato dos políticos e disse que o Estado turco deve chegar a termos com sua história. Ele também condenou o fato de que vários lugares na Turquia atualmente levam os nomes de organizadores e perpetradores do Genocídio Armênio. “Você pode se imaginar indo para a Alemanha e andando em avenidas com nomes de Hitler?”, Perguntou Paylan.
Após ler sua carta, Paylan finalizou com uma frase típica em armênio: Աստուած հոգին լուսաւորէ– Que Deus abençoe suas almas (assista ao vídeo, logo abaixo).
Mais tarde, o político twittou uma mensagem semelhante com fotografias dos deputados armênios otomanos martirizados.
Atos como o de Paylan no Parlamento da Turquia são muito mais do que demonstrações de coragem. Garo Paylan entra para a história da Causa Armênia ao ser a pedra no sapato no centro do negacionismo turco e, claro, por ser uma das vozes dos armênios e das minorias na Turquia, que passados mais de um século de seu crime ainda continua insistindo em negar o que o mundo todo já sabe e que está mais do que documentado e contado.
O nome de Garo Paylan figura ao lado de nome de importantes defensores da Causa Armênia, como o do saudoso jornalista de origem armênia Hrant Dink, assassinado em 2007 na frente da redação do Agós, o jornal bilíngue (armênio e turco) fundado por Dink.
Como eu gostaria de dar um abraço fraterno nesse homem, nesse irmão, nesse armênio defensor da Liberdade de Expressão e dos Direitos Humanos.
Zoravr patug, Garo aghparig.