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As décadas imediatamente após o genocídio armênio serviram para aprender a lidar com o trauma e trabalhar para a reconstrução em torno dos novos arranjos da diáspora armênia; assim como da atmosfera da URSS para os armênios da Armênia e de outros lugares da União Soviética.
Mas e os armênios da Turquia? Havia sobreviventes no interior daquele país e muitos, mesmo cientes de suas origens – e talvez por isso – adotaram o Islã e identidades turcas e curdas. Mas ainda restou uma comunidade armênia em Constantinopla, mais tarde oficialmente rebatizada de Istambul. Com o passar dos anos, após a consolidação da República da Turquia, os armênios de Istambul assumiram a responsabilidade de enviar missionários para as vilas e cidades da Anatólia e Ásia Menor, localizando armênios e levando-os para Istambul a fim de receberem educação armênia, seja religiosa ou secular. De fato, a maior parte dos armênios de Istambul hoje não são descendentes das antigas famílias armênias de Constantinopla (Bolsahay), mas filhos e netos de armênios de outras partes da Turquia.
A grande mudança aconteceu em 1996, com a criação do AGOS, o primeiro periódico armênio bilíngue da Turquia. É claro que outros jornais armênios circularam em Istambul por longos anos, mas um jornal que fosse tanto em turco quanto em armênio permitia que a voz armênia fosse ouvida amplamente na sociedade turca. Esse jornal foi também um veículo pelo qual a diáspora armênia e a recém-independente Armênia poderiam estar em contato com a comunidade turco-armênia, que havia ficado em grande parte à margem. Hrant Dink foi editor e fundador do Agos e permaneceu nesse posto até ser morto em 19 de janeiro de 2007.
O assassinato de Dink foi um ponto de virada na vida pública na Turquia. Ele foi alvejado em plena luz do dia em frente à redação do Agos por um jovem nacionalista de 17 anos. A história ganhou as manchetes mundo afora e criou uma onda de indignação por todo o país por conta da desconfiança que o assassino não teria agido sozinho. Evidentemente que Dink era alvo de duras críticas por sua franqueza e havia recebido ameaças de morte, que não só foram ignoradas pelas autoridades, como alimentaram teorias da conspiração, sobretudo após o assassino ter sido enaltecido pelos policiais. As investigações e o julgamento ainda prosseguem e continuam a gerar controvérsias, ainda que o assassino tenha sido condenado a 22 anos de prisão.
O assassinato de Hrant Dink eletrizou a comunidade armênia em Istambul, os armênios da Armênia e na diáspora, bem como a sociedade civil como um todo na Turquia. Marchas e manifestações com a participação de centenas de milhares – incluindo armênios, turcos, curdos e outros – têm acontecido no aniversário do assassinato. O Agos continua a ser publicado e mantém a linha editorial definida por seu editor-fundador, enquanto a Fundação Hrant Dink mantém seu legado e obra no que tange à democratização e respeito pelas minorias e direitos humanos na Turquia, bem como o restabelecimento das relações entre Turquia e Armênia.