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A Turquia já perdeu a batalha em busca da verdade

Imagem do cartunista Dragan, retirado de Israel Matzav blogspot.

Publicado originalmente no diário Aztag, com tradução do Professor Yervant Tamdjian


 

Os intelectuais turcos se manifestam cada vez mais:

Nos últimos anos, tem crescido as fileiras dos intelectuais, pesquisadores, jornalistas e defensores turcos dos direitos humanos que assumem uma postura audaciosa contra a política de negação do seu próprio governo, no que tange à questão do Genocídio Armênio.

Não obstante serem numericamente reduzidos e com mínima influência no presidente Recep Tayyip Erdogan, eles se empenham em levar adiante essa luta em duas frentes; em prol da verdade e justiça, isto é, dentro e fora da Turquia.

Espera-se que, com o passar dos tempos, estas fileiras de turcos liberais se multipliquem, forçando o governo turco a adotar melhorias em várias questões, entre as quais o reconhecimento do Genocídio Armênio.

Mas estes liberais não podem ser considerados totalmente como ativistas da Questão Armênia. Fundamentalmente, eles visam incrementar uma sociedade democrática, onde sejam respeitados todos os direitos dos cidadãos, bem como sejam aceitas as páginas obscuras do passado.

Um desses destacados turcos é o pesquisador e cientista político do Centro de Pesquisas Políticas de Istambul, Djenguiz Aktar, que há muitos anos vem defendendo o reconhecimento do Genocídio Armênio pelo governo da Turquia.

No início de 2015 ele escreveu dois artigos influentes questionando a negação do Genocídio Armênio pelo governo da Turquia. O primeiro artigo, publicado no jornal turco “Today’s Zaman” em 21 de abril tinha como título “O 99º aniversário”. O segundo, publicado em 24 de abril, foi inserido no site “Al Jazira”, em idioma inglês, com o título “Genocídio Armênio: A Turquia tem perdido a batalha contra a verdade”, seguido pelo subtítulo “a sociedade turca se fortalece e questiona a atitude de negação do Estado quanto aos trágicos acontecimentos de 1915”.

No primeiro artigo, Djenguiz Aktar cita o 24 de abril como data simbólica para os armênios, que foram dispersos forçosamente para todas as partes do mundo. Esta tragédia universal ainda não foi reconhecida na Turquia. Mesmo comprovando que os armênios da Anatólia foram completamente exterminados dentro da sua própria pátria, isto não tem sido suficiente para o povo e o Estado o reconhecerem”, diz o artigo.

Na sequência, Aktar ridiculariza o apelo do premiê turco Ahmet Davutoghlu de se “criar uma comissão conjunta de historiadores”, uma vez que tal comissão seria composta “de um lado por especialistas de genocídios, mas do outro lado por professores que negam, e que nem se conseguem reunir, o que dizer de tomar decisões”.

Ao concluir o seu artigo num tom otimista, Atkar observa que “hoje, diferentemente do Estado, a sociedade turca levanta a sua voz quanto ao passado, em busca de respostas condizentes. Esta é uma aproximação saudável e permanente de confrontar a verdade. Não haverá paz nestas terras se não encararmos o passado. O 2015 será ano de busca da verdade e da lembrança, mesmo que isso não agrade o governo”.

Já no artigo inserido no site de “Al Jazira”, o cientista turco divide a política de negação do seu governo com relação ao Genocídio Armênio em três áreas: 1) a atividade lobista, junto com o Azerbaijão, principalmente nos Estados Unidos; 2) a “locação” de pesquisadores, para tentar moldar sob cunho científico a “hipócrita negação” da Turquia, e, 3) o desvio de atenção do público do centenário do Genocídio Armênio, tentando centralizar o foco em outros acontecimentos, tais como “a vitória na batalha de Dardanelos” e “a destruição militar em Sareghamich”.

Apesar da enfática pregação de negação, Aktar insiste que “há muito tempo a Turquia já perdeu a batalha pela verdade. A exterminação do povo armênio na sua terra ancestral, seja qual for o nome dado a isso, é por si uma prova óbvia”.

Djenguiz Aktar considera o 24 de abril de 1915 como “um dia horrendo, quando deu-se início à execução da decisão sobre o extermínio dos armênios na Anatólia, planejado pelo governo otomano dos jovens turcos ou pelo Ittihad, com o objetivo de criar uma população homogênea formada por muçulmanos, alicerçando a estrutura da Turquia ainda não criada. Razão pela qual, não podia haver mais lugar ali para os povos cristãos, apesar da presença histórica dos mesmos naquelas terras”.

Mais adiante, no seu artigo o pesquisador turco cita “o relatório recomendado em maio de 1919 pelo governo que assumira o poder após a queda dos jovens turcos”, onde se diz que 800 mil armênios foram mortos até aquela data. Aktar cita, também, um trecho do livro publicado em 1928 pelo estado-maior turco, onde é registrado: “800 mil armênios e 200 mil gregos foram mortos em conseqüência dos massacres, deportações forçadas e trabalhos penosos”. Conclui Aktar: “Se também somarmos os que morreram depois de 1918 por motivo de inanição, epidemias e os massacres, logo esse número ultrapassará o milhão. O trabalho de limpeza étnica de Ittihad foi completado pelos kemalistas, ao obrigarem aqueles que se salvaram em toda a extensão da Anatólia a se migrarem para Istambul, ao mesmo tempo fechando os locais sagrados e escolas desses sobreviventes em toda a Anatólia”.

O valente intelectual turco conclui seu influente artigo com um cauteloso realismo: “A alma já saiu da garrafa. É difícil, porém, prever quando e de que modo ela influenciará na política do Estado”.

Por Harut Sassunian

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