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Nairi no Hamazkayin | Dias 13 e 14: O caminho para Artsakh

13º e 14º dias do Fórum Estudantil de Verão do Hamazkayin (31/07 e 01/08)

Por Nairi Zadikian:

Leia todos os relatos em -> www.estacaoarmenia.com.br/hamazkayinn


Quinta-feira (31)

Bom, comecemos com uma das viagens mais esperadas da minha vida:

Deixamos Erevan as 8:30 do dia 30 de julho com destino Stepanakert, à capital de Nagorno-Karabagh (Artsakh). A viagem foi longa, porque paramos em alguns lugares importantes durante o trajeto. O primeiro foi Khor Virap, local que tem uma das melhores, se não a melhor, vista do Ararat. Lá no Mosteiro, pudemos visitar o poço onde São Gregorio, o Iluminador, ficou aprisionado por 13 anos até que o rei Artashes em 301dC aceitasse o Cristianismo como religião oficial da nação Armênia.

Foi a primeira vez que vi o Ararat tão limpo! Não vou me atrever a descrever o que é estar de frente com o símbolo do nosso povo, com o tema de tantos poemas e canções, frente a maior lembrança de que o lado de lá é nosso e que foi de lá que nossos avós vieram. A única coisa que cabe a mim fazer é falar do que eu senti… Eu me senti mais uma vez abraçada! Abraçada por aquela montanha que descansava tão majestosamente, bem na minha frente. É um sentimento único e muito difícil de descrever. Sentia que o Ararat, mesmo tendo visto tanto sofrimento, tanto sangue, tanta desgraça, parecia saber que a justiça será feita um dia (e eu sei que em breve!).

Ele parecia sereno, pronto para acolher seus filhos de volta em nossas terras. Como um pai, por exemplo, acolhe e acalma seus filhos, ele parecia estar lá pra dizer que, mesmo com muitas marcas e feridas, ainda era soberano. Sai de lá com a certeza que aquela terra é minha, aquele Ararat é meu, e que teremos nossas terras de volta em breve. Acho que é isso o que ele diz àqueles que o visitam.

A próxima parada foi a casa-museu do insubstituível Baruyr Sevak, um dos maiores poetas e críticos armênios, ativo principalmente na época da URSS. Seus poemas são sempre muito politizados e patrióticos. São exemplos o poema “Menk”, mais conhecido como “menk kich enk sagayn mez hay en asum” (Somos poucos, mas somos armênios) e a música “Erevan tartsadz” (assista e escute, abaixo). Um dos meus grandes ídolos! Foi um enorme prazer poder estar lá! Visitamos também seu túmulo que fica do lado de fora da casa.

Passamos pela igreja de Noravank com sua famosa escada, atração de muitos turistas (haviam até italianos e chineses!) Linda, como sempre, ela parecia querer se misturar com a paisagem que estava no plano de fundo. Realmente um lugar pra se ter paz!

Não posso deixar de falar do caminho que nos levou a Artsakh. 

Sem exageros, é a natureza mais linda que eu já vi na minha vida. Até na Armênia não vi coisa parecida. Vales, vales e mais vales… Uma montanha encunhada na outra, muito altas. E nós bem lá em baixo, naquela depressão, olhando como éramos pequenos frente àquela natureza, que parecia transbordar vida.

Fazendo um comparativo, na Armenia todas as montanhas e lugares afastados do centro trazem um ar enorme de ancestralidade, transmitem história e são milenárias.

Em Artsakh, aquelas montanhas estavam cobertas de verde, de árvores, são paisagens inacreditáveis. Parecem pinturas!

Aquilo transmite muita vida, transmite ares novos. Aquelas montanhas, apesar de tão antigas, pareciam tão jovens quanto nós. Pareciam jovens dispostos a defender o povo armênio.

Fiquei toda arrepiada quando passamos pela região em que nosso exército conquistou a independência de Artsakh no começo dos anos 90. Aquelas montanhas pareciam conversar umas com as outras. Naquele exato segundo, senti que a alma de cada um daqueles jovens de 16, 17, 18 anos descasava dentro de cada uma delas, onde por nós tombaram. Mas acordavam de dentro delas também para saudar seus visitantes. Visitantes somente pela nossa condição de passeio, mas eu me senti presa à terra, senti que tudo aquilo fazia realmente sentido.

Chegamos em Stepanakert por volta das 22:00 e descansamos para o dia seguinte.


Sexta-feira (01)

Acordamos e já notei alguns detalhes meio bobos, mas que quero dividir: 1) O vocabulário dos Karabaghtsi (moradores da região de Karabagh – Artsakh) é um pouco diferente, e é muito legal conhecer as palavras que eles usam!

2) Nosso hotel é todo enfeitado com motivos armênios, acordei de manhã já motivada!

3) A cidade é muito, mas muito, calma! Deve ser uma das cidades mais seguras do mundo, sem exagero! Não tem muita gente, mesmo no centro, as ruas são tranquilas e a maioria dos prédios são novos.

Voltando a nossa programação, a primeira visita não poderia ter sido outra: visitamos o museu que homenageia os heróis que tombaram na independência de Artsakh (Nagorno-Karabagh).

Eu não sabia o que esperar, só sei que me deu um mal estar logo de cara quando, por onde eu passava na rua, lia frases de Karekin Njteh, de Vazgen Sarkissian entre outros. Como se eu já sabia o que estivesse me esperando lá dentro. Logo na porta havia escrito “Lernayn Karabaghi Hanrabedutyan azadutyune polor hay azgi hbardutyunn e” (a libertação da República de Karabagh Montanhosa é orgulho para todos os armênios). E Realmente eu estava muito orgulhosa!

Entramos no museu e, logo de início, confesso ter ficado meia em choque. Tive que me segurar MUITO pra não chorar. O museu em si é bem simples. Talvez as pessoas que não conheçam a história não se sintam tão afetadas quanto eu por causa da simplicidade e, ao mesmo tempo, da complexidade do lugar. Ele consiste em vários cômodos que, desde o rodapé até o teto, tem quadros com fotos daqueles que morreram por nós. Vários cômodos. Todos do rodapé até o teto. Eu queria parar e ler um por um… Todos eles em média de 20 anos, meninos da nossa idade. Depois de uma tentativa frustrada de ler todos, percebi que não precisava saber seus nomes pra me sentir próxima deles. Todos pareciam meus, sentia a todos em mim. Meu coração dói por eles. 

Aquela atmosfera era bastante sufocante, devo confessar. Te obriga a pensar naquilo tudo. A alma de cada um daqueles mártires parecia estar saindo de cada um de seus quadros. Parecia estar lá conosco. Juro que era essa sensação. Eles pareciam estar lá conosco. Obviamente que estavam entre eles os mais conhecidos Monte Melkonian, Vazgen Sarkisian, Ashot Tulyan, Tatul Krpeyan, Bedros Ghevontyan, e Viken Zakarian. Foram momentos muito emocionantes. Tive a constatação do meu sentimento do dia anterior, quanto às montanhas, lá quando li uma frase do Vazgen: “Te menk mardun incher arink, menk chenk badmi voch vokin, hartsum arek mer sarerin, nrank en miain mer vgan”.

Aquelas montanhas realmente estavam vivas. Vivas pelas almas daqueles que se foram muito cedo, mas que fizeram com que tivéssemos Artsakh e Hayasdan hoje.

Visitamos também o museu dos heróis desaparecidos. Sabe lá Deus o que fizeram com seus restos mortais. Isso foi uma coisa que nem permiti que minha mente especulasse. Não seria forte o bastante pra isso. Não seria forte o bastante também para revelação que a senhora de cabelos brancos que nos guiava viria a fazer mais tarde. Depois de nos apresentar todo o museu, mapas, fotos, armas e tudo mais, ela revela com um sorriso no rosto “e essa roupa e essa arma aqui expostos eram do meu filho, que um dia foi proteger a fronteira e nunca mais voltou. Não achamos seu corpo também.” Ela contava tudo isso sorrindo ainda… Assim como o filho dela eram milhares, e a história se repetiu muitas e mais muitas vezes. 

Terceira visita: Assembeia Nacional: Fomos recebidos pelo presidente Bako Sahakian e por mais dois membros. Eles nos esclareceram as dúvidas sobre Karabagh, sua atual política, atividades e fronteira.

De lá, fomos pra um dos talvez mais particulares lugares de que vou me lembrar. Visitamos uma das bases do exército de Stepanakert. Foi simplesmente o máximo! Pudemos ver desde o alojamento deles, até o anfiteatro onde estava rolando um show da própria banda do exército, para darem as boas-vindas aos novos soldados. Depois tivemos permissão pra acompanhar o treinamento de armas deles, e também brincamos de cabo de guerra (os jovens do Fórum contra um monte de soldados do exército de Artsakh. (vou deixar pra vocês adivinharem quem ganhou).

De tarde visitamos o famoso monumento “Menk enk mer Lernere” (somos nós as nossas montanhas), mais como conhecido como Tatik yev Papik (Vovó e vovô). Foi muito legal e todos esperavam por esse momento, já que o monumento é o símbolo do país.

Visitamos também o Vakri lere, muito conhecido também por ter naturalmente em pedras formado o formato de um tigre.

No meio da floresta e tudo mais, chama muito a atenção de todos os visitantes de NK. Fomos a igreja de Kantzasar e terminamos o dia na casa-museu de Nigol Touman, enorme ícone tashnagtsagan (membro da Federação Revolucionária Armênia) por ter sido responsável também pela organização do Khanassori Arshavank (o Levante de Khanassor), território que atualmente faz parte da Turquia.

Foi incrível poder estar lá ainda tão perto da data que marca essa importante etapa do nosso povo. Jantamos lá, e voltamos pro hotel muito ansioso por amanhã.

Abaixo, veja mais foto:

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