Por Armen Pamboukdjian.
Em 27 de julho de 1983 os jovens Ara Kuhrjulian, Sarkis Abrahamian, Setrak Ajamian, Simon Yahniyan e Vache Daghlian ficaram conhecidos como os “The Lisbon Five“, ou “Os Cinco de Lisboa”.
Os cinco jovens saíram de Beirute (Líbano), aonde residiam, com a missão de invadir a embaixada da Turquia em Lisboa (Portugal), em um ato para despertar a opinião pública mundial para a Questão Armênia e para o Genocídio Armênio, fatos pouco comentados à época.
Ao chegarem à embaixada, nem tudo saiu como planejado.
Os esforços dos jovens para dominar o local foram frustrados quando um dos meninos foi ferido e morreu. Os outros quatro já cercados pelo Grupo de Operações Especiais da Polícia e pela imprensa portuguesa decidiram explodir a bomba ceifando apenas as suas próprias vidas, em nome da Armênia e de um milhão e meio de mártires armênios vítimas dos turcos no primeiro genocídio do século XX.
Uma mensagem entregue posteriormente ao escritório da The Associated Press em Lisboa, trazia o seguinte conteúdo: “Nós decidimos explodir o edifício e permanecer sob o colapso. Isto não é um suicídio, nem uma expressão da loucura, mas sim o nosso sacrifício para o altar da liberdade“.
Ainda na carta, os jovens diziam que recorreram à luta armada, pois a busca pelo reconhecimento do genocídio armênio por meios pacíficos havia falhado, haja vista que a Turquia e seus aliados se recusavam (e ainda se recusam) a reconhecer o genocídio do povo armênio.
Nos anos 1970 e 1980 era comum que as pessoas recorressem a atos violentos para atrair atenção ao seu discurso. Entretanto, para os armênios a violência é e sempre foi o último recurso, ainda que o governo turco ardentemente continue negando o seu crime. Naqueles dias, a grande diferença era que o mundo todo parecia apático em relação à Causa Armênia, e a questão do Genocídio Armênio foi varrida e não figurava em fóruns diplomáticos internacionais ou de justiça e direitos humanos.
Foi uma época muito frustrante para os armênios do mundo todo devido à toda campanha de ódio racial contra os armênios promovida pelo governo turco. O governo da Turquia também não tinha a mínima intenção de comprometer-se num diálogo sobre o genocídio. A Turquia não negava e nem tocava no assunto genocídio, até os atos do A.S.A.L.A e do Lisbon 5.
Atos como o dos jovens em Lisboa, assim como outros, ajudaram a “abrir os olhos” do mundo para as demanda dos armênios em relação ao genocídio. Atualmente, diálogo e diplomacia são opções para a Turquia se ela estiver disposta a acertar as suas contas com a história e com os armênios.
Sarkis e Simon tinham 21 anos. Ara tinha 20. Setrak e Vatche tinham apenas 19 anos. Os jovens são lembrados pelos armênios no mundo todo pela doação de suas vidas à Questão Armênia.
O seu sacrifício lançou as bases para o reconhecimento político mundial do Genocídio Armênio e os seus altos ideais continuam a inspirar-nos hoje. A memória deles estará eternamente em nossos corações durante toda essa busca pelo reconhecimento internacional deste crime contra a humanidade.
Os restos mortais destes cinco heróis armênios repousam no Cemitério Nacional Armênio, em Bourj Hammud (Beirute, Libano).