Por Ana Fonseca Pereira, via Público.
A pergunta não obteve ainda resposta. Quem é “Misha”, e que papel teve este amigo na radicalização de Tamerlan Tsarnaev, o mais velho dos dois irmãos suspeitos da autoria do atentado de Boston? A sua existência foi revelada por familiares do jovem, mas o FBI não fez qualquer comentário e a imprensa diz não ter conseguido encontrar nenhuma pista sobre este armênio convertido ao islão.
“A semente para a mudança [de Tamerlan, morto durante a perseguição policial] foi plantada nas ruas de Cambridge”, garantiu Ruslan Tsarni, tio paterno dos dois jovens. No Daguestão, república russa do Cáucaso onde a família viveu antes de emigrar para os EUA, a mãe de Tamerlan confirmou que ele foi muito influenciado por Misha, um armênio “irrepreensível” e “um crente”.
A AP conseguiu falar com um ex-cunhado de Tamerlan, Elmirza Khozhugov, atualmente a residir no Cazaquistão, que contou como o jovem se transformou desde que, em 2008 ou 2009, conheceu este armênio que descreve como “ligeiramente mais velho, corpulento e careca, com uma longa barba avermelhada”.
Nenhum dos três diz saber qual o apelido ou como os dois se encontraram, mas todos garantem que – para bem (segundo a mãe) ou para mal (segundo o tio) – a amizade mudou Tamerlan. De um jovem apaixonado por desporto e música para alguém que se definia como “muçulmano devoto”, frequentava sites radicais e dizia acreditar que os atentados de 11 de Setembro foram uma conspiração da CIA. “Quando Misha começava a falar, Tamerlan calava-se e ouvia”, disse Khozhugov à AP, lembrando que o cunhado contou que deixara de compor porque o amigo lhe disse que “o islã não apoiava a música”.
A agência diz que durante dias tentou, sem sucesso, localizar o armênio na região de Boston e a televisão NBC adianta também que ninguém na mesquita que Tamerlan frequentava na cidade de Cambridge sabe quem ele poderá ser.
O jornal USA Today falou também com pessoas de uma grande comunidade armênia na vizinha cidade de Watertown, que se mostraram céticas sobre a descrição feita pela família. “Encontrar um armênio convertido ao islã é como encontrar um unicórnio no campo. Se isso acontecesse, toda a gente saberia quem era”, disse ao jornal um residente, recordando o genocídio de milhares de membros da comunidade às mãos do Império Otomano no início do século XX.
As autoridades norte-americanas revelaram, entretanto, que Dzhokhar Tsarnaev foi transferido para uma prisão nos arredores de Boston, que acolhe detidos com problemas mentais ou a precisar de cuidados médicos continuados. O rapaz de 19 anos, ferido com gravidade durante a perseguição policial, remeteu-se ao silêncio depois de ter sido formalmente acusado, mas antes terá dito que ele e o irmão agiram sozinhos, em retaliação pelas guerras americanas do Iraque e do Afeganistão.