Das Agências de Notícias, via Folha de São Paulo
A Turquia suspendeu as relações políticas e militares com a França em resposta à aprovação pelo Parlamento francês, nesta quinta-feira, de uma lei que pune com prisão quem negar genocídios, o que inclui a matança de armênios por turcos otomanos em 1915.
Logo depois da aprovação da legislação, uma autoridade turca anunciou que a Turquia estava retirando seu embaixador da França em protesto contra a medida.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou a medida em entrevista coletiva, na qual definiu como “injusta, racista, discriminatória e hostil para com a Turquia” a lei francesa, que prevê multa de 45 mil euros e um ano de prisão a quem negar o caráter de genocídio ao extermínio de armênios ocorrido em 1915.
Segundo ele, o projeto “abrirá feridas irreparáveis e muito graves nas relações bilaterais” entre os países.
Milhares de turcos e franceses de origem turca se manifestaram no centro de Paris horas antes da votação do projeto, que agora será enviado ao Senado, para ser debatido em 2012. Os defensores da medida esperam que seja adotada antes que o Parlamento entre em férias no final de fevereiro e das eleições presidenciais.
Tensões aumentaram entre a França e a Turquia na semana passada por conta do projeto, apresentado por membros do partido do presidente Nicolas Sarkozy.
Erdogan já havia escrito uma carta a Sarkozy na semana passada, alertando que as relações políticas e econômicas sofreriam graves consequências se a lei fosse aprovada.
“Eu não entendo por que a França quer censurar a liberdade de expressão”, disse o presidente da associação Montargis, Yildiz Hamza, entidade que representa 700 famílias turcas na França, em frente à Assembleia Nacional antes da votação. “A cada cinco anos existe esse tipo de debate porque as eleições estão se aproximando.”
A Armênia, que tem o apoio de muitos historiadores e parlamentares, afirma que 1,5 milhões de armênios cristãos morreram na região que hoje constitui o leste da Turquia durante a Primeira Guerra Mundial, como parte de uma política deliberada de genocídio comandada pelo governo otomano.
Governos sucessivos na Turquia e grande parte dos turcos sentem que a acusação de genocídio seria um insulto direto à nação. O governo turco defende que houve muitas mortes dos dois lados durante os combates na região.
Em 2001, a França aprovou uma lei reconhecendo a matança dos armênios como genocídio, o que provocou irada reação da Turquia. Depois, em 2006, a Assembleia deu seu aval a uma lei criminalizando a negação do genocídio dos armênios, mas a medida foi rejeitada pelo Senado nesse mesmo ano.
O novo projeto é mais genérico, pois criminaliza a negação de qualquer genocídio, em parte na esperança de aplacar os turcos.