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Onnig comenta: A senda de Raffi Hovhanissian e a rota de Gene Sharp. Barevolution?

A eleição presidencial de 2013 já estava condenada a ser um gerador de problemas. O desenrolar dos fatos confirmou isso. A vitória de Serge Sargsyan desencadeou uma onda de protestos diferentes daqueles incentivados pelo grupo do ex-presidente Ter-Petrossian em 2008, que resultaram na morte de muitas pessoas.

Nos dias que antecederam o pleito no mês passado, a candidatura de Raffi Hovannisian cresceu, e nem mesmo as prévias denúncias de compra de votos sensibilizaram os observadores internacionais. Sargsyan venceu e os protestos que se seguiram estão centralizados na figura de Raffi .

Mas quem é Raffi Hovannisian?

 

Foto: Asbarez

Raffi é neto de sobreviventes do genocídio, nascido em Fresno, Califórnia, em 1959, e tem sua vida ligada a armenidade não só por isso. Ele é filho de Richard Hovannisian, historiador catedrático, um dos responsáveis pela inserção dos temas armênios na vida acadêmica dos EUA. Na juventude Raffi participou ativamente do AYF (Armenian Youth Federation).

Na universidade ele estabeleceu contato com scholars na área da ciência política, até chegar a Fletcher School, centro de estudos diplomáticos e por onde também passou o ex-prêmie Vartan Oskanian, filho da diáspora como Raffi, nascido em Aleppo, na Síria.

A partir da Era Gorbatchev, em 1985, esses estudiosos, de origem armênia, se transformaram em um elo entre os EUA e os grupos que queriam mudanças na política da Armênia. Não podemos esquecer que Condoleezza Rice, se destacou como expoente da política externa graças a sua especialização em URSS, incentivada por Josef Korbel, um dos mais importantes mentores da política externa dos EUA, e pai da ex-Secretária de Estado, Madeleine Albright.  Ou seja, todos que tinham expertise em assuntos soviéticos gozavam de uma atenção especial por parte do governo dos EUA. Raffi fazia parte dessa elite intelectual forjada nos EUA e que tinha laços enormes com a Armênia.

Por conta de programas de intercâmbio Raffi estava na Armênia em 1988 durante os trágicos dias que sucederam o terremoto. Ele passou a desempenhar o papel de contato entre a diáspora e a Armênia. Ocupou um papel central na Armenian Assembly of America e na gestão inicial do Fundo Armênia além de criar um think tank, o Armenian National Institute (ANI).

Em poucos meses se transformou em uma das figuras centrais na transição do regime soviético para a atual República, chegando ao cargo de Ministro das Relações Exteriores em 1991, o primeiro chanceler da nova república. Renunciou em 1992, quando o ex-presidente Ter Petrossian titubeou frente aos temas como o reconhecimento do genocídio e  Karabagh.

Raffi passou a participar da política com seu instituto de pesquisas que angariava apoio em grupos estrangeiros que patrocinavam organizações de caráter liberal. Praticamente o mesmo caminho de Vartan Oskanian com seu Instituto Civilitas. Ambos deram voz a uma intelectualidade liberal e social-democrata que não tinha espaço no universo político armênio, dominado por truculentas oligarquias.

Assim, Raffi Hovannisian consolidou sua posição na Armênia. Em 2002 ele fundou o Partido da Herança e chegou ao parlamento se credenciando a voos mais altos na conturbada vida política do país. Confirmada sua derrota pela comissão eleitoral ele passa a liderar um movimento chamado de Barevolution. Algo como uma saudação para os ventos democráticos e um sinal de que se trata de um movimento pacífico. (barev em armênio significa olá).

Raffi teve alguma inspiração? Creio que a Primavera Árabe de certa forma influenciou sim. Mas, talvez a resposta esteja em outras paragens. Quem sabe em uma pequena instituição de pesquisa de Boston, chamada Albert Einstein Institute.

Mas qual a relação? Esse Instituto foi criado por Gene Sharp, professor de política, pacifista e que defende que as revoluções pacíficas são mais eficazes que os confrontos armados. Pois bem, a Barevolution de Raffi Hovannisian tem todos os ingredientes de um conhecido trabalho (pouco discutido no Brasil) de Gene Sharp chamado “Das Ditaduras a Democracia”. Nele Sharp faz um passo-a-passo de como derrubar governos com a força do povo. Esse livro é uma referência entre os sérvios que derrubaram Milosevic, entre egípcios que derrubaram Mubarak, entre líbios que derrubaram Kadafi e entre iranianos que contestam o poder dos aiatolás.

Se Raffi Hovannisian estiver seguindo esse caminho, um voo solitário, querendo se impor como único líder capaz de contrapor o atual governo incorre em erros graves. Esse tipo de “revolução pacífica” impressiona a mídia e empolga parcela da juventude. Mas isso passa muito perto de Washington, CIA e instituições liberais americanas. As forças reacionárias armênias ficam mais próximas de Moscou e do FSB (antiga KGB). Creio que meu leitor já entendeu. Do alto da minha arrogância sugiro a Raffi Hovannisian que una forças com grupos progressistas e juntos conquistem a Prefeitura de Yerevan nas eleições de 5 de maio para pavimentar com toda a segurança a transição para uma verdadeira democracia na Armênia. Mudar é o que mais queremos se é que me entendem.

*James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente às do portal.

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