Texto: Yuri Kebian Omonte –
No Rio de Janeiro, há muito tempo não se ouvia falar em Missa em homenagem aos Mártires Armênios que padeceram no genocídio de 1915. Então, surgiu a ideia dessa Missa ser marcada. Uma oportunidade de reunir os armênios que moram na capital fluminense para rezarem juntos em mais um 24 de abril. Não apareceram muitos armênios e simpatizantes da nossa causa. Ao todo seis pessoas foram nessa Missa devido ao 24 de abril. Sendo duas pessoas de minha família (minha mãe e minha tia), que chegaram um pouco depois de eu chegar à Igreja.
Andando sozinho pelas ruas do centro do Rio, ninguém entendia o que fazia um rapaz com uma bandeira da Armênia. Na verdade, muitos nem sabiam que eu estava com uma bandeira da Armênia. No fim da tarde estava terminando a partida Barcelona x Chelsea, válida pela semifinal da Liga dos Campeões. Após o fim da partida, vi muita gente passando por mim falando coisas do tipo “É rapaz, seu Barcelona se deu mal!”. Bom, que eu saiba não tem laranja no distintivo do Barcelona, e grená é diferente de vermelho.
Talvez se nesse dia 24 de abril eu estivesse com mais armênios nas ruas do centro do Rio, consequentemente com mais bandeiras, cantando músicas armênias, usando um mega fone para falar da nossa Causa, com toda certeza, não confundiriam a nossa bandeira com a bandeira do clube catalão. Pouco depois de eu começar a distribuir os panfletos informativos da nossa Causa, na porta da Igreja onde foi celebrada a Missa, apareceram as outras três pessoas. Mais dois armênios e um filósofo de ascendência libanesa que conhece nossa história e nossa luta pela CAUSA ARMÊNIA.
Foram poucos? Sim! Pouquíssimos! Mas essa luta não pode parar. Se quase todos que foram nessa Missa pararem, todo dia 24 de abril, aqui no Rio de Janeiro, seguiremos vendo gente confundindo nossa bandeira com a de um clube de futebol lá da Espanha. Temos um ano para pensarmos em uma manifestação pacífica, de preferência num domingo, e na orla.
No fim da Missa, eu li essa mensagem aos armênios:
Hoje é dia 24 de abril. São 97 anos do sofrimento de um povo que clama por justiça. Todo IAN(todo armênio tem o sobrenome terminado em IAN) já ouviu histórias contadas pelos pais e/ou pelos avós sobre o banho de sangue comandado pelo governo jovens turcos. Nada vai apagar os traumas que eles deixaram nos nossos entes queridos que conseguiram sobreviver. Meu avô faleceu meses antes de eu nascer. Logo, eu não o conheci. Mas conheci minha avó. Ela contou muitas histórias de perseguições religiosas. O negacionismo do governo turco não pára. Mas a campanha para que o mundo inteiro reconheça esse banho de sangue, também não pode parar. Todo IAN tem que seguir lutando por essa causa. Destruíram nossas igrejas, roubaram nossas terras e mataram 1.500.000 de armênios.“Eu gostaria de ver algum poder do mundo destruir essa raça, essa pequena tribo de pessoas não importantes, cujas guerras foram todas lutadas e perdidas, cujas estruturas desmoronaram, literatura não é lida, música não é ouvida, e preces não são mais atendidas. Vá em frente, destrua a Armênia. Veja se consegue fazer isso. Mande-os para o deserto sem pão nem água. Queime suas casas e igrejas. Depois veja se eles não vão rir, cantar e rezar novamente. Pois quando dois deles se encontrarem em algum lugar do mundo, veja se eles não vão criar uma nova Armênia.” William SaroyanWilliam Saroyan foi um escritor e dramaturgo dos Estados Unidos de ascendência armênia. Hayer Miatsek
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Saí da Igreja e voltei ao bairro onde moro, a Ilha do Governador. No caminho, dentro da VAN, conheci um engenheiro angolano que estudou na Rússia, reconheceu a bandeira da Armênia em minhas mãos e disse que esteve lá na época do início dos confrontos com os azeris. Ele, por ter passado uns meses na Armênia, conhece a nossa história e lembrou que aquele dia era mais um 24 de abril. Eis que dei a ele um panfleto sobre o genocídio, e deixei meu e-mail. Espero que ele entre em contato para que eu possa conversar mais com uma pessoa que estava na Armênia durante aquele período de heroísmo Armênio.
Ao chegar à Ilha, como eu ainda tinha alguns panfletos do genocídio, decidi distribuí-los. Depois, parei em frente ao Relógio da Cacuia e fiquei bandeirando. Não fiquei muito tempo bandeirando em frente ao relógio mais famoso do bairro. Mas muitos que passavam de carro ou a pé não entendiam NADA! E mesmo que poucos tenham entendido o que eu estava fazendo sozinho com a bandeira da Armênia, seja caminhando pelas ruas do centro do Rio ou no bairro onde eu moro, o mais importante é a sensação de que fiz a minha parte.
Quem sonha em ver novamente um grande grupo de armênios juntos, aqui na Cidade Maravilhosa, em datas importantes do calendário armênio, não pode ter vergonha de caminhar sozinho pelas ruas da cidade. E também não pode ficar triste com o número pra lá de reduzido de armênios na Missa do dia 24 de abril. Temos que fortalecer os que foram e incentivá-los a convidar mais armênios em outros eventos do calendário armênio. Desistir? Essa palavra não pode ter no dicionário de um armênio. A incansável luta pela nossa causa só pode parar no dia em que alcançarmos o nosso objetivo.