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Deportivo Armenio: 50 anos fazendo história no futebol da Argentina

No dia 02 de novembro deste ano, o Deportivo Armenio (time de futebol da Argentina) completou 50 anos. Ao longo desse tempo, a equipe passou por bons e maus momentos. 

E com muito orgulho que trazemos abaixo uma breve história do clube sob a ótica de uma torcedora fiel.

Por: Claudia Armenuhi Sarkissian –  

Em um belo dia, em 1962, um grupo de “loucos lindos” se reuniram em Buenos Aires afim de realizar seus sonhos. Eles eram sonhadores românticos, com muitas ilusões. Naqueles dias, esses “loucos” tinham saudades de uma Armênia que parecia tão distante … 

Eles eram filhos de imigrantes que sobreviveram ao genocídio armênio de 1915 perpetrado pelos turcos. Eles eram homens que estavam ativos na comunidade, em todos os lados e com tudo, de acordo com a sua maneira de pensar ou sonhar.

A comunidade armênia de Buenos Aires já tinha igrejas, escolas, clubes, centros culturais etc. Além disso,  absorvendo a cultura popular do nosso país, era a vez de futebol.

Estes argentinos, filhos desses imigrantes sofridos, fundaram o “Deportivo Armenio” com o Ararat como símbolo e com a letra “E” (է) do alfabeto armênio. Escolheram esta letra por ela representar a palavra Eagan (էական = essencial, significativo). 

As cores escolhidas foram o verde e branco, e como segundo uniforme (alternativo) o preto e branco, pois se fazia necessário escolher cores neutras. O Deportivo Armenio foi fundado para todos! 

Passados oito anos da fundação, no ano de 1970 a equipe foi inscrita na AFA (Associação de futebol da Argentina) com muito esforço, perseverança e trabalho de apoio de todo tipo, da comunidade e amigos. Foi aí que alguém bradou: “Temos uma equipe!” 

Mesmo sem estádio, o “Deportivo” jogava como local no Platense (estádio do Club Atlético Platense). Todos os sábados da minha infância fomos alentar o “Deportivo Armenio” com meu pai. A platéia começou a se encher de crianças, levadas por seus pais ou avós. Os adolescentes e os jovens foram para o setor “popular”, junto com a torcida.

Até que um dia toda a família foi para Ingenhiero Mashwitz (bairro da Grande Buenos Aires) para comemorar e colocar a “pedra angular” (nunca esquecerei essas três palavras). Era um campo sem nada, mas me lembro uma multidão de famílias e crianças correndo, celebrando, foi um clima de alegria geral.

Eu cresci assistindo os jogos, vendo o esforço de nossos mais velhos para realizar esse sonho, e conseguiram!

Lembro-me da festa super exclusiva no Sheraton (hotel e centro de convenções), obviamente, para arrecadar dinheiro para o clube. Para a minha família era “a festa” esperada durante o ano todo, todos os anos. 

Em 1984, a Comissão do clube conseguiu gerir um jogo amistoso com o F. C. Ararat Yerevan, a equipe mais popular da Armênia e uma das mais fortes na época da União Soviética (leia mais). Que emoção! Ian’s em campo contra o “Deportivo” e não podiamos escolher um para vencer, foi uma mistura rara de sentimentos muito intensos.

O Deportivo Armenio cresceu (eu também) e isso foi muito bom. Em 1986 a equipe foi campeã da série B, quando venceu o time do “Huracán” por 4 a 1, nos pênaltis e conquistou o acesso para a série A. 

Eu sempre me lembro de Alberto Parsechian, que além de ser o melhor goleiro armênio, mais tarde, tornou-se treinador. “Parse”, como era conhecido, possuia um sorriso humilde e era generoso com as crianças. 

Lembro-me do melhor marcador na série B, o Cincunegui que ficou no topo da artilharia daquele ano. Lembro também de Úbeda, dos irmãos Villarreal, Gardarian, Sarmiento (goleiro), Ramón Gallardo, Carlos Mavilian e o grande Maciel (também, um dos artilheiros daquela temporada).

O sonho tornou-se realidade, a equipe subriu para a primeira divisão e se deparou com os times clássicos e populares da Argentina, e ainda teve o luxo de bater o River Plate por 3-2em o Newell’s por 4-1. Já nestes anos, Walter Oudoukian foi o melhor camisa 9 e artilheiro da Primeira Divisão (temporada 87-88 ).

Na temporada seguinte, estávamos vivendo o senho de participar da Primeira Divisão.

Lembro do goleiro famoso de Boca Juniors, “Louco” Gatti, que fez comentários depreciativos sobre o Deportivo estar na primeira divisão, e sentiu o gosto de suas próprias palavras durante o jogo, quando Oudoukian fez um passe para Silvano Maciel e surpreendeu-o com um gol espectacular.

Foi último jogo de Gatti como goleiro do Boca. Também vencemos por 4-2 o clube River Plate, nos pênaltis. (Temporada 88-89). O goleiro ainda recebeu uma placa aonde estava escrito: “Do time mais jovem, para o goleiro mais velho”.

A euforia e alegria duraram duas temporadas, mas o Deportivo Armenio lutou até o fim, a realidade superou essa ilusão, pois a Primeira Divisão tem outros “valores”.

Alguma coisa aconteceu com a comunidade armênia, também, que nos anos 90 deixou de acompanhar e apoiar o Deportivo Armênio. Os sonhadores estavam ficando velhos e os novos líderes eram muito sozinhos, assim como estava ficando o Deportivo Armenio.

Este clube sonhado continua sua luta para se tornar melhor e voltar à glória, o fato é que agora temos a idade dos “loucos lindos” e muitos não fazemos quase nada pelo clube, nem ir ao estádio com a família como antes, e muito menos falamos sobre como levantar fundos em prol do clube.

Há uma realidade dura que faz com que o sonho pareça um “cristal quebrado”. Todas as instituições de armênios estão em crise, e o Deportivo não escapa dessa realidade. 

Eu me pergunto, será uma questão geracional? Será que aqueles que hoje tem 40 anos deixaram de sonhar? Será que deixamos de sentir que o Deportivo Armenio é o nosso clube de futebol profissional?  ? Será que a situação econômica do país e do mundo fere a todos igualmente? Como mudar esta situação?

Eu não tenho respostas!

Eu tenho sentimentos vivos e, hoje, quando um jovem de 20 anos diz: “Eu sou fã do Deportivo Armenio”, meu coração bate da emoção, porque eu sinto que meu pai voltou a viver nesse jovem. Eu sinto que, apesar de tudo, a missão foi cumprida.

Eu gostaria que todos os jovens canalizassem as suas energias e sentimentos aos que lutam por seus sonhos. Que esta juventude tenha uma vida cheia de esperanças realizadas, como teve meu pai, José Roberto Sarkissian (Sócio fundador n° 04).

Feliz Aniversário querido Deportivo Armenio.

Clique aqui para para ver o álbum com as fotos da festa do cinquentenário do Deportivo Armenio: 

 Veja mais:  
Acesse o site do Deportivo Armenio em: https://deportivoarmen.io/
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