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Brock Purdy: o “Mr. Irrelevant” de raízes armênias que chegou ao Super Bowl

Descendente de uma avó armênia, o quarterback do San Francisco 49ers transformou a última escolha do draft em uma das maiores histórias de superação da NFL

O futebol americano é pródigo em histórias improváveis, mas poucas alcançam o peso simbólico da trajetória de Brock Richard Purdy. Nascido em 1999, no Arizona, ele entrou na NFL em 2022 como a escolha de número 262, a última do draft, processo anual em que as equipes escolhem novos jogadores vindos do futebol americano universitário para integrar seus elencos. Essa posição confere ao atleta o apelido de “Mr. Irrelevant”, criado em 1976 para marcar, com ironia, a irrelevância esperada do último nome escolhido a cada ano. Ao longo da história da liga, a maioria desses jogadores sequer chega a atuar em partidas oficiais e este parecia ser também o destino de Purdy.

A narrativa, porém, mudou radicalmente. Durante sua temporada de estreia, ele assumiu o posto de quarterback titular do San Francisco 49ers após lesões de Trey Lance e Jimmy Garoppolo. O novato não apenas correspondeu: venceu sete jogos consecutivos, incluindo confrontos decisivos nos playoffs contra o Seattle Seahawks e o Dallas Cowboys. O sonho só foi interrompido na final da Conferência Nacional, contra o Philadelphia Eagles, quando sofreu uma grave lesão no cotovelo. Ainda assim, deixou claro que sua história não terminaria ali.

Na temporada de 2023, Purdy voltou saudável e tornou-se um dos melhores quarterbacks da liga. Lançou para mais de 4.200 jardas, 31 touchdowns e terminou com o melhor rating de passador da NFL (113.0). Liderou os 49ers a uma campanha de 12–5 e ao título da NFC, culminando com a classificação para o Super Bowl LVIII, em Las Vegas. Na decisão, perdeu para Patrick Mahomes e o Kansas City Chiefs apenas na prorrogação, mas estabeleceu um marco histórico: foi o jogador escolhido mais baixo no draft a comandar uma equipe até o Super Bowl.

Por trás das estatísticas esportivas, a trajetória de Purdy carrega também uma herança cultural marcante. Ele é descendente de armênios por parte de sua avó paterna, Alma Toufankjian, cuja família fugiu do Genocídio Armênio no início do século 20, vindo da cidade de Sivas, região que hoje pertence à Turquia, mas que historicamente integrou territórios armênios antes da destruição provocada pelo Império Otomano. Seus bisavós chegaram aos Estados Unidos como refugiados, trazendo consigo a memória de uma diáspora marcada pela dor, mas também pela resiliência. A história dessa família se entrelaça à do próprio Purdy, que transformou em força a condição de subestimado e fez dela combustível para alcançar feitos inéditos na NFL.

De “Mr. Irrelevant” a protagonista do maior palco do futebol americano, Purdy reescreveu a lógica do draft e deu visibilidade a uma origem armênia que carrega memória e resistência. Seu percurso não é apenas um caso esportivo de superação, mas também uma narrativa de identidade: a de um descendente de sobreviventes que aprendeu, dentro e fora de campo, a transformar adversidade em triunfo.

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