Em um ato histórico e sem precedentes, nesta quinta-feira, dia 02 de junho, o Bundestag (Parlamento da Alemanha) aprovou uma resolução que reconheceu o Genocídio Armênio pelo Império Otomano. A votação da resolução foi aprovada pela maioria dos deputados, enquanto apenas um votou contra e outro se absteve. Imediatamente após a decisão, Ancara chamou o seu embaixador na Alemanha para consultas.
O debate foi iniciado a pedido da maioria parlamentar governista e do partido Os Verdes, que apresentou seu projeto de resolução sob o título de “Memorial do genocídio dos armênios e outras minorias cristãs nos anos de 1915 e 1916” após o governo alemão passar a usar o termo genocídio desde 2015, ano do Centenário do Genocídio Armênio.
Durante a semana, turcos não pouparam esforços para tentar barrar a aprovação da resolução. Ameaças e mensagens ofensivas foram enviadas aos membros do Parlamento alemão através de e-mails, Twitter e Facebook e os insultos também foram direcionados aos jornalistas que estão cobrindo a votação.
“O massacre dos armênios no Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial foi a maior catástrofe que provocou sérias consequências na história do povo armênio, porque a deportação e matança em massa, segundo cálculos independentes, custou a vida a mais de um milhão de armênios“, diz o documento, que ainda acrescenta: “muitos historiadores independentes, parlamentos e organizações internacionais classificam como genocídio a perseguição e massacre dos armênios“.
Mas a Alemanha foi além e também menciona o papel ‘inglório’ do Império Alemão, que era aliado ao dos otomanos na Primeira Guerra Mundial e não fez nada para parar as atrocidades. A votação aconteceu apesar das advertências da Turquia e de seu presidente, Erdogan, que apontou que as relações bilaterais seriam afetadas por esta decisão.
No entanto, o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, afirmou durante a semana que não tem intenção de evitar “questões incômodas”, “mas no genocídio contra os armênios e outras minorias cristãs há cem anos no Império Otomano, o Império alemão teve parte de responsabilidade”, declarou.
Ao mesmo tempo, a câmara ressaltou que a “sincera e autocrítica análise” do passado não afeta as relações com outros países, mas constitui uma condição para a reconciliação e a cooperação. Em mensagem dirigida a Ancara, que rejeita o termo “genocídio” e se limita a falar de massacres e deportações, Lammert afirmou que “o atual governo turco não é responsável pelo o que ocorreu há cem anos, mas sim é responsável pelo o que vai ocorrer no futuro“.
A luta pelo reconhecimento do Genocídio Armênio a nível mundial alcança um novo patamar 101 anos depois. E a pressão agora recai sobre as costas de Obama e Erdogan.