Nesta semana o Genocídio Armênio ganha destaque com o julgamento do “Caso Perinçek”. Ele ocorre em meio a uma enorme discussão sobre liberdade de pensamento e expressão que permeia a comunidade internacional logo após o ataque ao Charlie Hebdo em Paris.
Vou refrescar a memória do meu leitor. Em 2003 a Suíça adotou uma resolução no seu parlamento que reconhece o genocídio armênio de 1915 como grave crime contra a humanidade. Na época o placar (107 deputados a favor do reconhecimento e 60 contra) mostrou a ampla disposição dos representantes do povo suíço em adotar essa medida sem se preocupar com abalos nas relações com a Turquia.
Desde sempre e obedecendo as diretrizes da política externa turca, na época já comandada pelo poderoso Abdullah Gul, o governo da Turquia faz uma ostensiva campanha negacionista do genocídio.
Claro que o governo de Ancara repudiou a lei suíça. E não só isso. Iniciou uma série de ações ofensivas contra a lei. Uma delas envolve Dogu Perinçek.
Ele é uma conhecida figura no meio político turco. Um nacionalista que vem insistentemente repetindo que o genocídio armênio é uma mentira. Em uma série de palestras na Suíça em 2005, Perinçek não só negou o genocídio, fato reconhecido pelo governo da Suíça, como também acusou a nação armênia de ter assassinado os turcos em 1915 e que isso tudo era uma enorme mentira internacional. O tribunal usou a legislação suíça anti-racismo para condena-lo. O Tribunal condenou Perinçek a uma pena de prisão de 90 dias, uma multa de 3.000 francos suíços e uma multa simbólica de 1.000 francos suíços para a Associação Suíça-Armênia por ser o representante legal da comunidade que sofreu prejuízo moral.
A fim de dar prosseguimento ao enfrentamento e mostrando todas as suas intenções, Perinçek entrou com recurso no Tribunal Europeu de Direitos Humanos criado em 1959 com sede em Estrasburgo na França. Cabe lembrar que esse organismo não tem relação alguma com a União Europeia. É um tribunal onde 47 países europeus resolvem pendências nesse tema.
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos aceitou a apelação. O acordão de 2013 deixava claro que não existe consenso quanto aos fatos ocorridos em 1915 e por isso vai submeter o apelo ao júri.
O julgamento já começou nesta manhã e talvez quando você estiver lendo esse artigo o veredicto já tenha sido dado. Ao acompanhar um pouco da sessão, escutei a advogada Amal Clooney, o advogado Geoffrey Robertson contratados para defender o lado armênio e os representantes do governo armênio Gevorg Kostanyan e Emil Babayan.
Não quis escutar o lado turco. Já sei suas mentiras. Também não quis escutar os meandros do juízes. Estou farto de gente oportunista que fala aos borbotões sobre aquilo que não entende.