Algum tempo atrás, Onnig Tamdjian – colunista do Portal Estação Armênia – foi informado por meio de um primo (Leandro Agopian) sobre um projeto interessante que ele havia encontrado na internet e que envolvia a história armênia e os 100 anos do Genocídio Armênio.
Ao pesquisar um pouco mais na web, Tamdjian descobriu mais coisas sobre o projeto intitulado “Armenia Sings on in Our Hearts” e estabeleceu contato com a responsável pelo projeto, Bella Bablumian.
E para grande surpresa do nosso colunista, Bella é uma jovem armênia radicada no Rio de Janeiro.
Abaixo, assista ao trailer do vídeo que Bella produziu:
Onnig bateu um papo com Bella e que rendeu essa entrevista (abaixo) que o Portal Estação Armênia traz com exclusividade.
Entrevista de Onnig Tamdjian com Bella Bablumian:
1. Antes de tudo, muito obrigado por conceder esta entrevista ao Portal Estação Armênia. Bella, fale um pouco de você e como chegou ao Rio de Janeiro?
Primeiramente, gostaria de agradecê-los pelo convite e a oportunidade de comunicar-me com os armênios e descendentes da comunidade aqui no Brasil.
Sou originalmente da Armênia, nasci e fui criada em Yerevan até a queda da União Soviética, quando a minha família teve que seguir em busca de melhores oportunidade primeiro na Rússia, e depois nos EUA, onde ficamos durante muitos anos e onde o resto da minha família mora atualmente. Foi ali que me formei em psicologia e fiz o mestrado em Relações Internacionais, e onde comecei a minha carreira em desenvolvimento econômico nas instituições como o Banco Mundial, Organização de Estados Americanos, e USAID. Foi esse meu trabalho com projetos internacionais que me trouxe ao Brasil em 2009. Em 2010, tive a oportunidade de realizar um projeto em São Paulo, onde fiquei durante um ano. Foi neste ano que conheci o meu agora marido brasileiro e resolvi ficar. Desde então, passei os meus últimos anos morando no Rio de Janeiro, trabalhei como sub chefe de relações internacionais do Governo do Estado e agora estruturei a minha empresa que trabalha com auxílio e consultoria para as empresas estrangeiras no Brasil.
2. Bella, explique qual a sua relação com os assuntos armênios de maneira geral?
Mantenho fortes laços com minha família tanto na Armênia, onde tenho minha avó, primas, e outros amigos, quanto em outros países onde tenho parentes. Fora disso, fui muito ativa na comunidade armênia nos EUA, cantando na igreja e eventos culturais armênios. Desde que sai do meu pais, sinto um vazio grande e necessidade de conectar com armênios, que por coincidência vem aparecendo no meu caminho. Portanto, o que perdi com minha mudança, adquiri nos compatriotas que encontro aonde for, em partes mais inimagináveis do mundo, nas pessoas que, dispersas de suas terras ancestrais, formaram pequenas Armênias fora da sua pátria. Armênios franceses, irlandeses, cariocas, armênios que são milionários e outros que são artistas da rua, armênios que falam armênio e outros de sem falar nenhuma palavra, criam algo inexplicavelmente armênio com as cultura que eles absorveram dos sues parentes.
3. Por favor, fale um pouco do seu projeto?
Este projeto tem como inspiração a comemoração de 100 anos de genocídio que teremos no dia 24 de abril, 2015. Pensei muitas vezes em como poderia pessoalmente contribuir à comemoração. Porém, não queria focar nos aspectos negativos e óbvios do genocídio; pelo contrário, resolvi focar no positivo e unir as diversas historias que tinha ouvido e novas que gostaria de descobrir de perseverança, sobrevivência, coragem, saudades e reencontros, tristeza e felicidade.
Dedico este projeto aos descendentes de armênios que prosperam em todo o mundo e em homenagem àqueles que, deixando sua terra natal para trás, criaram novos lares, comunidades e pequenas “Armênias” ao redor do mundo.
As comunidades que foram, até recentemente, isoladas e não tinham comunicação entre si, agora podem ser conectadas com a tecnologia moderna. Apesar disso, pouco esforço tem sido feito na re-conexão das pessoas que perderam o contato a século atrás. Armênia Canta em Nossos Corações visa ligar os pequenos recantos armênios criados dispersamente em diferentes regiões do mundo em uma bela trama de conexão cultural que persiste um século após a tentativa de aniquilação.
4. Qual a sua opinião sobre a atual situação da luta pelo reconhecimento do genocídio em escala mundial?
Essa questão é extremamente complexa e carregada de implicações políticas. Vivemos em um momento em que muitos países formalmente reconheceram o genocídio, porém muitos outros, incluindo a Turquia, continuam negando os fatos. É claro que todos nós desejamos o reconhecimento formal: como povo, precisamos desse reconhecimento para seguir em frente. Como psicóloga, entendo profundamente a necessidade individual de aceitação para processar o trauma e lutar de forma saudável.
No entanto, é crucial escolher o momento adequado e proceder com cautela. A Armênia enfrenta uma situação geopolítica delicada e pode ser negativamente afetada se a pressão pelo reconhecimento for imposta à Turquia. Isso poderia resultar em retaliação e prejudicar o crescimento e a estabilidade política do nosso país. Acredito que a imposição não seja a solução: o reconhecimento deve ser buscado por meio de relações diplomáticas e passos graduais com o atual governo turco.
5. Bella, deixe um convite a todos aqueles que querem ajudar no seu projeto.
O projeto baseia-se no espírito voluntário dos membros que visam a compartilhar esta nova história da Armênia moderna e não é feito com uma tentativa de lucrar. Inúmeras pessoas comprometeram seu tempo e experiência profissional para tornar o projeto possível, tanto armênios quanto estrangeiros. Cada um deles vai contribuir para o projeto por meio do recolhimento de imagens e filmagens, edição, produção e distribuição do vídeo.
Convido vocês a enviarem os seus vídeos e fotos (vejam as instruções para a filmagem e envío na pagina de facebook www.facebook.com/