Por Armen Pamboukdjian –
Hoje pela manhã recebi, alegremente, um telefonema do nosso querido Der Yeznig Guzelian, Arcipreste da Igreja Apostólica Armênia do Brasil. Ele ligara para me informar sobre uma notícia que o mesmo acabara de ler: Recep Tayyip Erdoğan, Primeiro Ministro da Turquia, acabava de lançar uma mensagem de condolências aos armênios.
Realmente o telefonema do Der Hayr me deixou bastante curioso e segui meu caminho para o trabalho buscando informações a respeito. Através de links dos meus companheiros na Europa cheguei ao discurso de Erdogan. Sim, ele oferece condolências a todos que morreram nos anos da 1ª Guerra Mundial e aos armênios que também sofreram, segundo suas palavras.
O que me deixa mais triste é que o governo turco sempre lança uma cortina de fumaça no assunto do Genocídio Armênio tentando sensibilizar a parte menos politizada e pouco comprometida da diáspora armênia. Para esses que não tem noção do fato histórico de uma carta dessas, escrita por um neoditador, já está ótimo. Desconfio que muitos pensam assim para não ter mais “trabalho” em lutar pela nossa justa causa.
Acontece que o discurso de condolências de Erdogan é mofado já em seu primeiro parágrafo, uma vez que não aponta o que realmente aconteceu e coloca os armênios como sendo vítimas de uma guerra. Mais uma mentira de Erdogan! É a continuação do negacionismo do genocídio às vésperas do 99º aniversário deste crime contra o povo armênio.
Erdogan repete, inúmeras vezes, que foi o fim do Império Otomano que criou essa situação. Nós repetimos milhões de vezes que a Turquia moderna continuou o genocídio e é a grande responsável pelo crime contra a humanidade que atingiu 1,5 milhões de armênios em 1915.
No final de sua mensagem, Erdogan lança mais uma vez a sua corda para tentar enforcar os armênios. Convoca para uma comissão a fim de rever a história. Repito, o discurso de Erdogan é mofado, joga cortina de fumaça no tema e tenta cooptar aqueles menos preparados e engajados na Causa Armênia.
Erdogan, você é um fanfarrão!
Não foi uma guerra que matou os armênios, foi um crime de estado planejado, premeditado, organizado e que em pouco tempo despovoou todas as terras armênias! Dispenso suas condolências e ficaria muito mais feliz se você assumisse o crime, mas isso não faz parte de seu caráter.
Outros governantes turcos virão e a democracia vai triunfar.
Erdogan você não vai calar os armênios com discursos sentimentalistas carentes de qualquer verdade.
Armen Kevork Pamboukdjian
Editor-chefe do Portal Estação Armênia e Conselheiro do CNA – Brasil.
Abaixo, leia a mensagem do Primeiro-Ministro da República da Turquia sobre o Genocídio de 1915.
“O 24 de abril carrega um significado especial para os nossos cidadãos armênios e para todos os armênios ao redor do mundo, e oferece uma oportunidade valiosa para compartilhar opiniões livremente sobre um assunto histórico.
É indiscutível que os últimos anos do Império Otomano foram um período difícil, cheio de sofrimento para milhões de turcos, curdos, árabes, armênios e de outros cidadãos otomanos, independente da sua religião ou origem étnica.
Qualquer abordagem consciente, justa e humanista a estas questões requer uma compreensão de todo o sofrimento suportado neste período, sem discriminar quanto à religião ou etnia.
De fato, construir hierarquias de dor ou comparar e contrastar o sofrimento não têm qualquer significado para aqueles que, de fato, experimentaram esta dor.
Como um provérbio turco diz, “o fogo queima no lugar onde ele cai.”
É um dever da humanidade reconhecer que os armênios se lembram do sofrimento experimentado nesse período, assim como qualquer outro cidadão do Império Otomano.
Na Turquia, expressar diferentes opiniões e pensamentos livremente sobre os acontecimentos de 1915 é a exigência de uma perspectiva pluralista, bem como de uma cultura de democracia e modernidade.
Alguns podem utilizar este clima de liberdade na Turquia como uma oportunidade para expressar afirmações e alegações acusatórias, ofensivas e até mesmo provocantes.
Mesmo assim, se isso vai permitir-nos compreender melhor questões históricas em seus aspectos legais e transformar ressentimentos novamente em amizade, é natural abordar diferentes discursos com empatia e tolerância e esperar uma atitude semelhante de todos os lados .
A República da Turquia continuará a aproximar-se de cada idéia com dignidade, de acordo com os valores universais da lei.
No entanto, usar os eventos de 1915 como uma desculpa para a hostilidade contra a Turquia e transformar essa questão em uma questão de conflito político é inadmissível.
Os incidentes da Primeira Guerra Mundial são a nossa dor compartilhada. Avaliar esse período doloroso da história através de uma perspectiva apenas da memória é uma responsabilidade humana e acadêmica.
Milhões de pessoas de todas as religiões e etnias perderam suas vidas na Primeira Guerra Mundial. Tendo vivido eventos que tiveram conseqüências desumanas – como a deslocalização – durante a Primeira Guerra Mundial, não deve impedir que os turcos e armênios restabeleçam compaixão e atitudes mutuamente humanas entre um e o outro.
No mundo de hoje, derivar inimizade com a história e criar novos antagonismos não é aceitável nem útil para a construção de um futuro comum.
O espírito da época necessita de um diálogo, apesar das diferenças, a compreensão em atender outros, avaliando meios de compromisso, denunciando o ódio, e louvando a respeito e tolerância.
Com esse entendimento, nós, como a República Turca, pedimos a criação de uma comissão conjunta histórica, a fim de estudar os eventos de 1915 de uma forma acadêmica. Esta chamada permanece válida. Pesquisas acadêmicas a serem realizadas por historiadores turcos, armênios e internacionais iriam desempenhar um papel significativo em esclarecer os acontecimentos de 1915 e uma compreensão exata da história.
É com esse entendimento que abrimos nossos arquivos para todos os pesquisadores. Hoje, centenas de milhares de documentos em nossos arquivos estão a serviço dos historiadores .
Olhando para o futuro com confiança, a Turquia sempre apoiou estudos acadêmicos e abrangentes para uma compreensão exata da história. Os povos da Anatólia, que viveram juntos durante séculos, independente de suas diferentes origens étnicas e religiosas, estabeleceram valores comuns em todos os campos da arte da diplomacia, da administração estadual para o comércio. Hoje eles continuam a ter a mesma capacidade de criar um novo futuro.
É nossa esperança e crença de que os povos da antiga e única geografia, que partilham hábitos e costumes semelhantes, serão capazes de conversar entre si sobre o passado com maturidade e lembrar juntos as suas perdas de uma forma decente. E é com essa esperança e crença que nós desejamos que os armênios que perderam suas vidas no início do século XX descansem em paz, e nós transmitimos nossas condolências aos seus netos.
Independentemente de suas origens étnicas ou religiosas, pagamos tributo, com compaixão e respeito, a todos os cidadãos otomanos que perderam suas vidas no mesmo período e em condições semelhantes.”