Leia o original no site do Diário Clarin –
No meio das tensões da crise na Criméia, a noticia poderia ter passado despercebida, não fosse Kessab uma cidade historicamente povoada por armênios, e se na mídia turca não tivesse vazado uma conversa envolvendo altos funcionários do governo turco, na qual discutiam como criar justificativas para uma intervenção militar na Síria.
De fato, a ofensiva dos islamitas partiu do território turco, por sinal, segundo informações provindas do campo de batalha, um forte bombardeio do exército turco preparou o terreno para dita ofensiva.
Imediatamente após a ocupação de Kessab foram difundidas imagens de atrocidades que, como se apurou depois, faziam parte de uma campanha de desinformação. O fato é que em Kessab ficaram somente 80 idosos que se negaram a deixar a cidade. As notícias sobre o roubo de igrejas, a remoção de crucifixos, assim como apropriação de bens e revenda posterior na Turquia, são fatos nos quais é possível acreditar, levando em conta os antecedentes do comportamento dos extremistas.
Na sua história de séculos em Kessab, é a terceira vez que o povo armênio é forçado a fugir das suas casas: em 1909 pelos massacres anti armênios, em 1915 durante o Genocídio, e agora em 2014, sob uma suspeita fundamentada sobre o suporte turco à ofensiva islamita.
Além de qualquer consideração própria à lógica binária falsa sobre a guerra civil na Síria, para os armênios, no mundo todo, a ocupação de Kessab e o envolvimento turco, atualizam o trauma do Genocídio.
Passados 99 anos desde que aconteceu o Genocídio, Ancara não reconhece o crime, muito menos caminha no sentido de uma reparação, aliás, agora acaba de criar uma comissão oficial, especialmente designada para reagir a nível global às rememorações que estão organizando-se para 2015.
(POR KHATCHIK DERGHOUGASSIAN PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA UNIVERSIDADE DE SAN ANDRÉS)
Tradução: Adriana Nazeli Topalian