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Por que não se cala Davutoglu?

Sei que o título não é original, mas pouco me importa já que a mentira turca também não é.

Na última semana uma suposta nova página tentou ser aberta pelos negacionistas. Em uma breve visita a Yerevan para o encontro do “Bloco do Mar Negro”, o chanceler turco, Ahmet Davutoglu disse a jornalistas turcos que “As deportações de 1915 foram um erro e um ato desumano.

davutoglu-armeniaQuando Davutoglu cita que as deportações de armênios em 1915 foram desumanas, ele tenta criar mais uma cortina de fumaça que esconde a verdade.  A intenção clara é se afastar do fato histórico incontestável que é o genocídio armênio, como se ele não tivesse relação alguma com os atuais governantes turcos. O que causa espanto é que justo ele, Davutoglu,  autor de uma das obras de referência do neo – otomanismo  intitulada “Strategic Depth”, seja o arauto de mais essa ofensa grave ao povo armênio. Em diversas passagens do livro, Davutoglu,  um dos ideólogos desse novo momento geopolítico, coloca a Turquia moderna como herdeira do Império Otomano e por isso ela deve retomar toda a influência de antes. Davutoglu afirma que a Turquia tem que ser uma potência regional para poder ser respeitada no jogo mundial das relações internacionais. Se essa é a Turquia de hoje,  ela é sim totalmente responsável pelo genocídio de 1915.

Ao tentar empurrar o assunto do genocídio armênio para o campo da “desumanidade”, Davutoglu força de forma desonesta, o deslocamento do assunto para o corolário da barbárie injustificada, fruto de um inconsciente coletivo, influenciado pelo clima de guerra onde portanto não existem responsáveis diretos e outros blá blá blás. Ele insinua que o governo dos Jovens Turcos, grupo de dirigentes responsáveis pelo genocídio armênio, não representavam, segundo seus falsos argumentos, o conjunto dos dirigentes daquele período.     Ora, a maldade do membro do governo turco fica patente, já que um expert em política como o chanceler, deve conhecer muito bem a obra lapidar de Hannah Arendt intitulada “Da Violência”, a mais impressionante radiografia sobre o tema no século XX. Sugiro que Davutoglu leia o capítulo 3 do livro.  A autora é enfática quando diz que a violência não é irracional e tampouco fruto de algum instinto animal guardado dentro dos seres humanos. A violência instrumental é totalmente racional e tem um fim determinado. As deportações de armênios em 1915 tinham a clara e documentada intenção de aniquilar toda a população armênia.  

Ao enfatizar a palavra “deportação” ele tenta mais uma vez deslocar o centro da discussão para um mero movimento populacional forçado. Fica claro que a intenção e fatiar o crime. O raciocínio por trás é muito bem elaborado:  separar deportação de genocídio.

Esse tipo de afirmativa de Davutoglu é a forma sofisticada e mais perversa do negacionismo. Sua frase visa criar um efeito positivo na opinião pública internacional, dando uma falsa face humanista ao governo turco. Na verdade, os sucessivos governos turcos tergiversam sobre o tema do genocídio armênio, ora negando veementemente ora criando eufemismos e falsas premissas, na tentativa de protelar as possíveis punições para esse crime, imprescritível segundo as leis internacionais.

Desumano é Davutoglu que continua a perpetrar o horrendo genocídio que se abateu sobre o povo armênio negando-o através de um jogo de palavras que não se sustentam perante os argumentos históricos, que provam que as deportações eram sim uma das primeiras fases do genocídio. Deportar para um deserto é matar. Matar no caminho do deserto é genocídio. Deportar é genocídio. Sim as frases anteriores estão tempo presente para que fique claro que ainda é um crime e os criminosos estão soltos. Você não me engana Davutoglu.

****James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente às do portal.

Sobre o autor

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Professor de Geografia e Geopolítica. Fleumático, colérico, sanguíneo e melancólico.
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