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Informativo Armênia N°08 – Setembro de 2013


ARMÊNIA 2013
ANO XIII – Nº 8
Setembro de 2013 

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Por Sossi Amiralian

 

NOTÍCIAS LOCAIS – DESTAQUES DO MÊS

 

Mais uma vez, os armênios de São Paulo demonstraram sua pujança, realizando eventos que marcaram nossa comunidade. Neste mês de setembro, a comemoração da Independência da Armênia ocorreu no Espaço Cultural do Banco Sofisa, por iniciativa do Consulado da República da Armênia em São Paulo, representado pela Exma. Sra. Cônsul Honorária Hilda Diruhy Burmayan.  O encontro transcorreu num ambiente de agradável confraternização, arte e patriotismo, com a participação da Banda Militar do Estado de São Paulo, do Grupo de Danças Típicas “Yerevan”, bem ao “sabor” de Kohar, e dos discursos rememorativos de nossa independência, pelas palavras da Cônsul Diruhy Burmayan e do Ministro Plenipotenciário da Armênia em Paris, Sr. Vahakn Atapekian, traduzido simultaneamente pelo professor Yervant Tamdjian.

Importante, também, foi a exibição do documentário “Rapsódia Armênia” na Reserva Cultural do Edifício Gazeta.

Um “road movie” que registrou o percurso pelas diferentes regiões da Armênia, entrevistando cidadãos com depoimentos valiosos e impressivos, contendo história e questionando a política e as condições sociais em que vivem. Retratam em seu próprio físico – semblante e corpo – as marcas da vida que lhes é adversa. O roteiro nos dá a sensação de que estamos participando da viagem, revisitando pelas estradas, as montanhas, mosteiros, lagos e terrenos áridos e áreas desertas. Quanto à trilha sonora, ora sacra, ora dramática, emociona profundamente. O filme soube aliar o enfoque realista com o sentimento de “ser armênio” do povo, numa ótica que não poderia deixar de ser crítica. Aqui fica nosso reconhecimento aos diretores que realizaram este filme sobre a vida na Armênia, com uma visão não turística, mas verdadeira. Parabéns,  Cassiana Der Haroutiunian, Cesar Gananian, Gary Gananian e  participantes da equipe. 

O Centenário de nascimento do Dr. Vahakn Minassian, dentista, compositor e maestro, foi celebrado ontem, no Clube Armênio, com uma excelente programação realizada por solistas de canto, piano, dueto de violino e piano, coral, discurso rememorativo e exposição de acervo – partituras, livros, fotos e DVDs – todos priorizando os trabalhos do nosso saudoso Maestro Minassian, material esse idealizado e reunido, em sua maior parte, por sua filha Rita, que, infelizmente, partiu antes da comemoração planejada.  Numeroso público lotou o salão de eventos, com a presença de amigos, parentes e antigos cantores do Coral regido por Dr.Vahakn. 

Num imprevisto informal, o povo cantou o “Chnorhavor”, liderado por Hagop Burunsuzian. A Maestrina Sonia Ekizian Cherkezian foi dignamente homenageada, por ter continuado por muitos anos, a regência do Coral, herdado por seu tio, e que hoje leva o respectivo nome. Atualmente, a regência cabe ao Maestro Alexey Kurkdjian. As canções por ele regidas no domingo, lembraram “os bons tempos”, quando se cantava no Coral de Vahakn Minassian.  Queremos aqui registrar os nomes dos que atuaram brilhantemente nas apresentações do Centenário: solistas Girair Mahsseredjian e Anahid Distchekenian Kahvedjian, que cantaram peças da ópera “O Pastor”, de autoria do homenageado, respectivamente, “O Sonho de Sarô” e “Memórias” (Hichadagner); pianista Sirvart Momdjian, com peças de Aram Khatchadurian; dueto de violino e piano, pelo Maestro Alexey Kurkdjian e o pianista Gustavo Fiel; apresentadora do programa, Ana Maria Partamian.  Todos os participantes foram efusivamente aplaudidos pelo desempenho de suas execuções. 

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ARMÊNIA / RÚSSIA / UNIÃO EUROPEIA / DIPLOMACIA / ARTE

Armênia e Rússia vão intensificar a cooperação na esfera de proteção social

No mês passado, o ministro do trabalho da Armênia, Artem Asatryan, recebeu o embaixador russo, Ivan Volynkin. Na reunião, Asatryan informou sobre as reformas sociais que acontecem no país. O embaixador então declarou: « Estou na Armênia, um país com o qual não temos problemas que não possam ser resolvidos. Sou admirador dos armênios e vou visitar não só a capital, mas também outras regiões, e conhecer o povo. Estou disposto a me encontrar com meus colegas e discutir qualquer assunto ». E acrescentou : « Nossas relações têm uma história de muitos séculos, temos percorrido um longo caminho no domínio da proteção social, temos assinado documentos estratégicos muito favoráveis para o desenvolvimento conjunto ».Os dois representantes declararam que o processo na esfera da proteção social nos dois países requer uma nova forma de cooperação, de sorte que é necessário examinar e colocar em prática novas bases para as relações de parceria.

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A política de Erevan dá um banho de água fria nas esperanças dos pró-europeus

A decisão da Armênia de juntar-se à União aduaneira admnistrada pela Rússia suscitou a cólera dos pró-europeus. No início deste mês, muitos armênios foram apanhados de surpresa ao saber que o seu presidente, Serge Sarkissian, em visita a Moscou, havia concordado com a entrada do seu país na União aduaneira ora composta por Rússia, Bielorrússia e Casaquistão. Isso porque, após longas negociações, a Armênia, ao lado da Geórgia e da Moldávia, deviam ratificar em novembro um acordo de livre-comércio com a União Europeia, o que seria um primeiro passo para uma futura integração ao bloco europeu. Essa reviravolta levou os armênios às ruas. « Viemos aqui para dizer que não permitiremos isso », declarou Lusine Hovsepian (34) numa recente manifestação. « Se tivermos de escolher entre a UE e essa União aduaneira, escolheremos a Europa, mais desenvolvida, mais democrática ». A preocupação com Nagorno-Karabakh, região separatista do Azerbaijão, majoritariamente povoada por armênios, e as pressões exercidas pela Rússia, aliada da Armênia na região, parece ter prejudicado a esperança de aproximação com a Europa. « Está claro que, por depender da Rússia, militar, econômica e politcamente, é impossível integrar-se à outra zona econômica », comentou Tatoul Hakobian, analista da Fundação Civilitas, sediada em Erevan. A Armênia depende muito da Rússia para o aprovisionamento de armas, que considera vital para manter o equilíbrio diante do vizinho Azerbaijão, rico em petróleo, sobre a questão do Nagorno-Karabakh. Assim que Erevan se aproximou de Bruxelas, Moscou enviou uma série de mensagens inequívocas a sua aliada, informando sobre o preço do gás liberado para a pequena república caucasiana e anunciando um enorme contrato de venda de armas para Baku. « A Armênia juntou-se à União aduaneira não como um parceiro independente, mas como um mendigo humilhado e desgraçado », esbravejou Levon Ter-Petrossian durante uma recente reunião política, ele que foi o primeiro presidente armênio após a Independência do país e é hoje um dos líderes da oposição. O partido governista, por sua vez, argumenta que a integração com a União aduaneira, um projeto sutentado pelo presidente russo Vladimir Putin que luta por uma integração cada vez mais estreita com os países da antiga URSS, faz sentido. A Armênia, o mais próximo aliado de Moscou no Cáucaso tem uma importante diáspora na Rússia, cuja remessa de dinheiro para o país no ano passado chegou a um bilhão e meio de dólares. Segundo o sociólogo Kevorg Pagossian, essa é a razão pela qual 55% dos armênios são a favor de laços mais estreitos com a Rússia. « Não temos necessidade de visto para ir lá e não há barreira linguística », disse ele. Muitos armênios falam o russo que aprenderam na época da União Soviética. « O fator decisivo, todavia, é que o bem-estar de um grande número de famílias depende dessa transferência de dinheiro », acrescentou o sociólogo. « Tal acordo não pode ser do interesse da Armênia, pois ele não irá nos ajudar a resolver nossos maiores problemas: a corrupção, os monopólios econômicos e a ausência de concorrência política », replicou Armen Martirossian, do partido de oposição Herança Liberal da Armênia. « A Armênia, ao escolher a União aduaneira ao invés dos acordos com a União Europeia, continuará a ser um país de oligarquias e monopólios como a Rússia », disse ele.

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Os Democratas armênios veem com bons olhos a intenção das autoridades

de integrar a Armênia à União aduaneira

O partido democrático da Armênia publicou uma declaração em que comemora a decisão das autoridades do país de integrar a Armênia à União aduaneira. O partido afirma que a  coopeeração no seio da União está de acordo com os interesses econômicos e sociais do país. Os democratas armênios pensam que as autoridades do país, sempre que negociar com os países membros da União aduaneira, deveriam apresentar os mecanismos da cooperação mutuamente vantajosos, tendo em conta o fato de que não há fronteiras comuns. Não devem jamais omitir os interesses do Alto-Karabagh, porque as estruturas econômicas da república funcionam no espaço aduaneiro da Armênia. « Pensamos que a adesão à União aduaneira não impede de forma alguma que a Armênia coopere com outros países e uniões », diz a declaração. « Se os repesenantes da União Europeia estão sendo sinceros em suas declarações, a Armênia pode tornar-se um ponto estratégico entre a União Europeia, a União aduaneira e os membros da futura União euroasiática». O partido democrático da Armênia foi fundado em 1991 por Aram Sargsyan, o primeiro secretário do comitê central do partido comunista da Armênia.

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O teatro nacional de ópera e balé « Alexandre Spendarian » de Erevan

vai comemorar seu 80° aniversário

No dia 20 deste mês, o teatro abrirá sua temporada número 80 com a ópera Anush de Armen Tigranyan. Kamo Hovhannisyan, diretor do teatro, enfatizou que « é uma boa tradição abrir a temporada teatral com Anush. Neste ano também não faremos exceção». O teatro incluiu algumas surpresas para o público no calendário da temporada. Os 400 artistas do teatro apresentarão alguns espetáculos longos com alguns participantes que se destacaram no exterior. O teatro foi inaugurado oficialmente em 20 de janeiro de 1933. O edifício foi projetado pelo arquiteto armênio Alexander Tamanian. O teatro já promoveu concertos de Charles Aznavour, Ian Anderson, John McLaughlin e muitos outros.

Fonte : armenews.am  (adaptado)

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EXPERIÊNCIAS E IMPRESSÕES QUE MAIS ME MARCARAM NO BRASIL – COMO ARMÊNIA DA PÁTRIA-MÃE

O quê me trouxe ao Brasil?

Foi a paixão pelo idioma francês que uniu duas almas “diferentes” (diferentes pela criação, porém, sem nunca discutir ou se desentender pelas diferenças culturais) e “distantes”: eu, nascida e crescida na Armênia soviética e meu marido, brasileiro, descendente de imigrantes italianos. O destino simplesmente promoveu nosso encontro em Genebra – mais precisamente, no Hospital Cantonal de Genève – onde ele já estava trabalhando. Eu, após fazer estágio, aceitei o convite para trabalhar no mesmo serviço de Neurofisiologia Clínica. Após um ano, decidimos recomeçar nossa vida no Brasil. Então, foi em outubro de 1991, que desembarcamos em Porto Alegre. Quando saímos a primeira vez para passear pelo Centro, fiquei impressionada com a multidão, as cores e o calor. Logo me surpreendi no supermercado: tudo era “grande”, o próprio supermercado, as prateleiras, as mesas cheias de frutas e legumes, frios, carnes, peixes. As pessoas com carrinhos cheios! Compramos frutas maravilhosas e desconhecidas para mim até então, como papaia, goiaba e maracujá. No caixa, fiquei muito surpresa e não entendia por que eu precisava de alguém para colocar as minhas compras nas sacolas. Pior ainda, esse trabalho era realizado por adolescentes. Perguntei para meu marido, o que se pode aprender com esse trabalho? Estão perdendo do tempo precioso para estudar. O lugar deles seria a escola e não o supermercado! Mais triste ainda, foi ver as crianças pedindo esmola nas esquinas, que Graças a Deus, há anos, não se vê mais essa prática por aqui.

Na primeira semana, já fomos visitar a família do meu marido, em Caxias do Sul, subindo a serra e contemplando sua natureza majestosa – o que    fez lembrar-me de alguns lugares da Armênia. Caxias do Sul, de colonização italiana, principalmente da região do Vêneto, terra de uva e vinho, pareceu-me uma “típica” cidade italiana à la brésilienne. Apaixonei-me pela cidade e desde então, moramos e trabalhamos ali, onde fui bem recebida e acolhida pela família, e onde nasceu nossa filha brasileira, Gabriela. Os amigos e colegas de meu marido, também foram muito atenciosos e gentis. Não foi difícil fazer amizades sinceras e duradouras.

Nenhum dia, senti-me “sozinha”, ou uma “estrangeira”. Tudo era familiar para mim: as tradições, relacionamentos entre os parentes e amigos. Não tive nenhum problema de adaptação. Até a comida me pareceu não muito diferente da nossa (galeto, massa, churrasco, queijos, feijão, arroz, lentilha…), salvo a forma de preparo e os temperos. Como eu adoro novidades, logo desenvolvi um sabor armênio-brasileiro na minha cozinha.

Fiquei fascinada pela liberdade de exercício das crenças no Brasil. Na União Soviética, todas as religiões eram suprimidas, igrejas discriminadas e/ou destruídas. Nas escolas e universidades, aprendia-se a criticar a Bíblia, sem se ter lido a própria Bíblia! Fui conhecer a Igreja Católica, centro Espírita, centro de Umbanda, templo Budista… Achei incrível a tolerância e convivência pacifica das crenças diferentes, e até a mistura das religiões.

É uma experiência fantástica viver num outro país, aprender seu idioma e tradições, sintonizar com seu povo, que apesar dos diversos problemas sociais e políticos que tem (como os de qualquer outra nação), é um povo alegre. Aprendi que as diferenças entre as pessoas são mais humanas (essenciais) do que culturais.

Assim, sou mais uma brasarmênia (neologismo criado, com muita propriedade, pelo reverendo Aharon Sapsezian) entre tantas outras que vivem nesse país abençoado. Espero contribuir com meu trabalho e minha vida dedicada à minha família, para construir um futuro melhor para todos, independentemente de sua nacionalidade.

Marine Meliksetyan Trentin

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