Peço licença aos leitores do Portal Estação Armênia para algumas lembranças e não reminiscências. Começo com essa distinção para dar a dimensão desse fato.
Em 27 de julho de 1983, cinco (5) jovens armênios do Líbano invadiram a embaixada turca em Lisboa e depois de um confronto com policiais portugueses e agentes turcos se suicidaram abraçados em torno de uma granada.
Lembro como se fosse hoje, eu tinha 17 para 18 anos e voltava do cursinho quando um amigo me disse que falavam de algo com os armênios na Tv. Corri desesperadamente para a minha casa, uma vez que noticiários sobre a Armênia e os armênios eram praticamente inexistentes naqueles anos.
Ao chegar em casa vi todo o noticiário sobre o fato. Fiquei atônito. A medida que as notícias chegavam fui entendendo a magnitude e a importância do ato dos meninos de Lisboa.
Semanas depois comecei a notar que o assunto era tratado por muitos membros da coletividade armênia de São Paulo como loucura e insanidade chegando mesmo a condenar o ato desses jovens. Mas o que mais me marcou foi a indiferença, expressão máxima dos ignorantes. Os que ignoram a realidade são incapazes de sentir algo e portanto de expressar alguma opinião.
Muitos anos se passaram e hoje o quadro geopolítico internacional é totalmente diferente. Nas décadas de 1970 e 1980 jovens armênios utilizaram a força para chamar a atenção do mundo para o crime sofrido pelo povo armênio em 1915. Esses atos contundentes tinham a clara intenção de não deixar o genocídio armênio cair no esquecimento.
Hoje a Armênia é um país livre com graves problemas estruturais. A situação é tão delicada que milhões de armênios já deixaram o país em busca de oportunidades em outros quadrantes do planeta.
A nação armênia de maneira geral está mobilizada para ajudar o país através de fundos de auxílio extremamente relevantes e programas de fomento nos mais diversos campos da vida econômica e social do país.
O leitor deve estar se perguntando qual a relação entre os assuntos. Devemos ajudar cada vez mais a Armênia, devemos nos comprometer cada vez mais com o Fundo Armênia, HOM, UGAB e todas as entidades preocupadas com o bem estar social da pátria mãe.
Mas essa ajuda será potencializada se estivéssemos todos engajados de maneira efetiva com a Causa Armênia. Tenho a impressão que o louvável ato de ajudar a Armênia seria ainda mais vigoroso se nos dedicássemos a buscar a justiça pelos crimes cometidos contra nossas antepassados e que continuam impunes até hoje.
Devolução dos territórios usurpados, saída para o mar, abertura das fronteiras, reconhecimento da autodeterminação de Karabagh, retomada de Naghitchevan, liberdade para Djavakh, certamente dariam um fôlego econômico ao país. Não há o que discutir.
Infelizmente a indiferença que me deixou pasmado em 1983 quando do ocorrido com os meninos de Lisboa ainda continua em relação a Causa Armênia. Que fique claro, não estou julgando se ajudamos ou não a Armênia e os armênios que tanto precisam. Precisamos de um efetivo compromisso com a causa do nosso povo.
A Causa Armênia tem em seu bojo a questão da justiça, dos direitos humanos e do reconhecimento histórico. Mas devemos lembrar que a Causa Armênia tem dentro dela o ressarcimento, a devolução, as indenizações que os algozes nos devem por direito.
Quem não acredita nisso e não luta por isso ainda não descobriu um modo diferente de ajudar a Armênia.
Por isso reverencio a memória dos 5 meninos de Lisboa. Simón Yahnian, Vaché Daghlian, Setrak Adjemian, Sarkís Aprahamian e Ará Kerdjalian que lembraram ao mundo que fomos vitimas de injustiças e atrocidades. Mas mais que isso, eles são um divisor de águas entre aqueles que entenderam o seu ato e são sensíveis à causa daqueles que ainda hoje ignoram a necessidade urgente do reconhecimento do genocídio.
Isso também é ajudar a Armênia economicamente…
Veja o vídeo e a música em homenagem ao “Lisbon 5”: