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Eu beijaria a mão de Soghomon Tehlirian que disparou o tiro contra Talaat

A coluna Onnig comenta de hoje traz a história do assassinato de Talaat Paxa, principal responsável pelo genocídio dos Armênios em 1915, morto na operação Nemesis em Berlim, no ano de 1921.

Fotos: Cortesia do Museu do Genocídiohttp://www.genocide-museum.am/eng/index.php .

SoghomonTehlirianEm 15 de março de 1921, o jovem estudante de engenharia Soghomon Tehlirian executou Tallat Pasha, um dos arquitetos da morte de 1,5 milhão de armênios em 1915. Julgado na Alemanha, Tehlirian foi absolvido. Muito já se falou disso. Mais que um ato de vingança cega, essa execução é fruto de uma elaborada e concisa avaliação do quadro internacional do período. Convido-os a essa leitura para que jamais pensemos que o ato de Tehlirian foi somente passional. Foi pensado e executado em nome do povo armênio.

Durante os tristes dias de abril de 1915, o mundo assistiu ao primeiro crime contra a humanidade planejado e executado por um Estado e seus órgãos e aparelhos. O governo turco-otomano iniciou o massacre de milhões de armênios, fato que ficou conhecido como Genocídio Armênio.

Diferente do senso comum que fala de injustiça e descaso, algumas passagens históricas nos dão a noção de que, mais do que isso, os armênios foram vítimas do jogo de interesses que hora exaltava a justiça, hora a silenciava covardemente.

Para se ter uma ideia disso, em maio de 1915, potências europeias já acusavam formalmente o governo turco-otomano de crimes hediondos. Com o fim da I Guerra Mundial, a França aproveitou o contexto e direcionou sua ira contra a Alemanha e, de certa forma, poupou os genocidas turcos.

Com a Revolução Bolchevique em 1917, os russos perderam todo o interesse em pressionar a comunidade internacional para julgar o governo dos Jovens Turcos, responsável  pela matança. Os russos estavam preocupados em consolidar o socialismo.

Os EUA tinham em mãos documentos impressionantes que provavam o crime de genocídio, incluindo os relatos do Embaixador Morgenthau, mas sua diplomacia se acovardou uma vez mais, já que o massacre não era contra cidadãos americanos.

Efetivamente, foi a Inglaterra que mais lutou naquele período para dar uma lição aos governantes turcos. Com milhares de soldados espalhados pelos antigos territórios do Império Otomano, os britânicos fizeram pressão sobre Mehmet VI, o decadente sultão, para prender e julgar os mandantes do genocídio. Infelizmente tudo foi feito para não gerar problemas e nenhuma justiça foi aplicada.

Os julgamentos de Constantinopla contra os executores dos massacres começaram somente em 1919Mais de 100 altos funcionários do governo dos Jovens Turcos estavam presos. Os julgamentos eram diferentes para cada um deles em função de sua influência e de seu poder. Tevfik Bey, por exemplo, comandante das deportações dos armênios em Yozgat, foi condenado a 15 anos de prisão e trabalhos forçados.

Mas, incrivelmente, os julgamentos também impuseram pesadas penas a Talaat e Enver, que foram condenados à morte. Nesse meio tempo, eles já haviam fugido. Aí está uma das farsas dos julgamentos de Constantinopla entre 1918 e 1919.

Com um poder cada vez mais consolidado em territórios do decadente Império Otomano, a Inglaterra foi perdendo interesse nos julgamentos. O governo britânico conseguiu a custódia de quase 70 prisioneiros turcos e os transferiu para Malta, ilha ocupada pelos ingleses no Mar Mediterrâneo.

Com a “posse” de muitos dos assassinos dos armênios, os ingleses aplicaram a eles o rito jurídico do Reino Unido: não haveria mais pena de morte. Eis uma outra farsa dos julgamentos de Constantinopla  entre 1918 e 1919.

Foi o genocídio armênio e a farsa dos julgamentos que alertaram muitos juristas da necessidade de se pensar um tribunal internacional para crimes contra a humanidade. Foram as injustiças contra os armênios e a falência dos processos contra os Jovens Turcos que abriu as portas para Nuremberg, entre 1945 e 1946.

A forma de condução desses julgamentos teve ainda um significado maior. Kemal Ataturk levantou os nacionalistas e assumiu o poder. Suas tropas enfrentaram franceses e ingleses e num desses combates Ataturk aprisionou 30 oficiais britânicos e exigiu a libertação de todos os turcos presos em Malta. Eis aqui a prova de que o governo da República Turca é o herdeiro e responsável por tudo aquilo que fez o Império Otomano. Eis aqui mais uma farsa do direito internacional naquele período. Executores do genocídio presos foram libertados em troca de oficiais ingleses, reféns dos turcos.

Foi essa incapacidade do mundo de punir criminalmente os mandantes do genocídio armênio que impulsionou o Tashnagtsutiun a realizar a Operação Nêmesis (clique aqui e veja lista das ações da operação).

O Nono Congresso da Federação Revolucionária Armênia (Tashnagtsutiun) tomou a decisão de rastrear e executar os culpados pela tragédia que se abateu sobre nosso povo somente depois de avaliar toda essa situação.

A Operação Nêmesis foi planejada para esse fim. Soghomon Tehlirian cumpriu uma ordem judicial e entrou para a história como herói.

Em 03 de junho de 1921 começou o julgamento de Tehlirian por um tribunal internacional em Berlim. Soghomon foi inocentado sob o veredito de Legitima Defesa Tardia pela morte de 1,5 milhões de armênios. Esse julgamento se constituiu numa das peças mais emocionantes da história jurídica mundial.

Beijaria a mão de Tehlirian que disparou o tiro contra Tallaat.

Obrigado Tehlirian.


Assista ao vídeo traduzido com a dramatização da reunião e da morte de Talaat.

Aos interessados, existe um livro muito bom sobre o tema, intitulado: “Um genocídio em julgamento”, que conta a história do julgamento de Tehlirian até sua absolvição, pelo tribunal internacional.

Sugestão: Seguem links onde você pode encontrá-lo:

1 – Ache Livros 

2- Vira página 1

3 – Submarino

Você encontra esse, e muitos outros livros na secretaria do Centro Armênio em São Paulo.

Acesse: www.igrejaarmenia.com.br/portal/
Av. Santos Dumont, 55,  São Paulo – SP
TEL: 11- 3326-9533
E-Mail : com.armenia@terra.com.br

Sobre o autor

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Professor de Geografia e Geopolítica. Fleumático, colérico, sanguíneo e melancólico.
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