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Artigo: A Turquia não é um lugar seguro para refugiados

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Recentemente notícias de abusos em campos de refugiados sírios na Turquia ganharam espaço na mídia internacional e nacional.

Os relatos de crianças sendo estupradas por funcionários do campo de refugiados de Nizip, na província de Gaziantep, no sudeste da Turquia, próximo a fronteira com a Síria, vieram logo após de a Anistia Internacional ter apresentado provas de que a Turquia atirou contra refugiados da Síria, em abril.

Agora, o jornalista turco Yashar Idan, representante do jornal BirGun, (que também divulgou o estupro de 30 meninos sírios entre setembro de 2015 e janeiro de 2016), revelou que não só estupros, mas também a venda de órgãos de corpos de refugiados e também de mulheres vem ocorrendo.

O maior problema em relação à este caso não é simplesmente o fato dele ter ocorrido, mas sim, que as autoridades turcas “falhem” em noticiar este tipo de abuso e a comunidade internacional não cobre providências.

Os refugiados sírios (vale lembrar que muitos deles possuem origem armênia), além de passarem pelo sofrimento de ter que sair de seu país de origem, agora veem-se totalmente desprotegidos pelo país asilante, que deveria lhes dar, no mínimo, segurança.

Das 30 crianças violentadas, apenas a família de 8 apresentaram queixa legal, as outras, tem medo de serem deportadas.

Estas famílias estão divididas entre a possibilidade (sabemos muito bem como o Judiciário de Erdogan opera) de ter justiça sendo feita para contra os agressores de suas crianças e serem deportadas para o seu país de origem, em guerra civil há mais de 5 anos e o mais perturbador disso tudo é o fato de que uma chanceler alemã que se diz preocupar com os refugiados sírios, vá ao local onde estupros, venda de órgãos e mulheres ocorre e o elogie como campo modelo.
Não há desculpas para o não conhecimento destes casos, se nós, pessoas comuns temos acesso à este tipo de notícia, imagine a mulher que ocupa um dos mais altos cargos do governo alemão e vive dando regalias à Turquia.

Ao ficar calada sobre estes abusos e elogiar este campo, chanceler, você está sendo conivente com este tipo de atitude, você, como cidadã de um país membro da União Européia deveria cobrar explicações ao governo turco.

Condenar estas famílias a um governo que viola direitos humanos diariamente, que não reconhece o seu passado e continua repetindo-o é absolutamente incoerente e irresponsável, o mundo está assistindo a crise na Síria calado, está vendo casos de abusos contra refugiados, que estão absolutamente vulneráveis, calado.

Nosso dever é falar, é noticiar, é expor o que está acontecendo, nós temos que ser a voz destas pessoas já que a comunidade internacional responsável parece não se importar.

Sabemos muito bem como é a dor de ver o estado responsável pelo primeiro Genocídio do século XX sair impune com seus crimes e continuar com suas atrocidades, portanto, nós, armênios, que também tivemos nossas mulheres estupradas, crianças mortas e homens decapitados pelo mesmo estado genocida, temos o dever de não permanecer calados.


Confira a tradução da notícia, via Syria Truths:

“Campos turcos viram centros de estuprar crianças, vender órgãos de corpos de refugiados

Um promitente jornalista turco revelou terríveis fatos sobre os campos de refugiados sírios em sua cidade, que inclui estupro de crianças e venda de órgãos dos corpos dos refugiados e mulheres.

Yashar Idan, representante do jornal BirGun, em Ancara, disse ao canal de notícias de base no Irã e língua árabe al-Alam que dez crianças foram estupradas no campo Nizip, no sul da Turquia e órgãos de vários refugiados foram vendidos no mercado.

De acordo com Idan é uma vergonha o governo turco chamar o campo de Nizip como um modelo para outros campos de refugiados quando este tipo de crime está sendo cometido lá, enquanto estes são apenas os estupradores e não funcionários do campo que são julgados e punidos.

O jornal BirGun no começo deste mês revelou que 30 crianças sírias foram estupradas em Nizip e as autoridades governamentais falharam em noticiar. Veio em meio a relatos de que a Turquia não é um país seguro para os requerentes de asilo.

Os 30 meninos foram estuprados por um faxineiro no campo de refugiados Nizip, em Antep, de setembro de 2015 até o começo de 2016.

O estuprador, identificado apenas como E.E, confessou que ele atraiu crianças entre as idades de 8 e 12 anos a fazer sexo com ele em troco de 2 a 5 liras turcas ($0,7 – 1,80). Ele está agora preso preventivamente.

Acrescentando a confissão de E.E., as crianças puderam descrever em detalhes como elas foram estupradas nos banheiros do campo.

As famílias das oito crianças até agora apresentaram uma queixa legal. O resto das famílias não fizeram por medo de que sejam deportadas.

Mas apesar do estupro ter tomado conta por vários meses, eles nunca foram detectados pelo Primeiro Ministério de Desastres e Autoridade de Gestão de Emergência (AFAD), que regula o campo. Ao invés disso, os estupros só foram revelados após militares notarem o autor levar as crianças até os pontos cegos das câmeras.

Em resposta às revelações, um oficial militar de alta patente do acampamento disse a BirGun que a AFAD é a culpada pelos estupros.

“A AFAD é responsável pelo campo e por esse desastre”, ele disse.

Mas a AFAD não foi a única parte que desconhecia os crimes ocorrendo dentro do campo, que tem uma capacidade de 14.000 refugiados.

O local foi elogiado por seus padrões no mês passado, durante uma visita da chanceler alemã Angela Merkela, do ex primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu e várias outras figuras do governo turco.

As notícias chocantes vieram em meio a relatos de agentes do controle da fronteira turca abusando e atirando em refugiados sírios, o que levou a Anistia Internacional e outras organizações de direitos humanos a dizer que a Turquia não é um lugar “seguro” para os requerentes de asilo.

Mas, apesar de toda a controvérsia em torno do tratamento dos requerentes de asilo da Turquia, o país é o anfitrião do maior número de refugiados no mundo, incluindo 2,7 milhões de refugiados sírios.”

Sobre o autor

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Colaboradora. Carioca da gema que viveu em Curitiba desde criança e agora é cidadã do mundo. É advogada, profissional humanitária aficcionada por Direitos Humanos e defensora de minorias. O coração e o sangue sempre falam mais alto no que diz respeito à Armênia.

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