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Rap é compromisso: Rashid rima com genocídio armênio

Poucos leitores sabem, mas este mero mortal que aqui escreve anda de skate há mais de duas décadas.

Alguns provavelmente vão achar engraçado, outros vão torcer o nariz, muitos vão dizer que é coisa de criança e poucos vão ligar para esse detalhe, mas ele faz toda a diferença. Não vou explicar em pormenores o que o skate significa, mas quero contar uma história.

Sou editor-chefe deste site e sou formado em jornalismo, mas o que me dá sustento é meu emprego em uma revista de skate. A CemporcentoSKATE completou 20 anos de muito skate em 2015. Nela, colaboro com textos e revisões, sou um dos editores do site, além de estar por trás das redes sociais.

Entretanto, em meu tempo livre (ou não) acabo me dedicando a este portal de notícias armênias. O Estação Armênia é feito com muito amor e baseado em vários ideais. Porém, o Armen não é a única “cara” do Estação Armênia. Marcelo Mirzeian é um grande amigo e “é o cara” que deu vida a essa empreitada. Junto de nós, um time maravilhoso de amigos e colaboradores nos ajudam a produzir matérias, artigos e entrevistas.

Uma vez contextualizada a história, revelo que o que me motivou a escrever esse texto foi uma coincidência entre o skate e a Armênia.

É necessário contextualizar mais uma vez e deixar claro que no Brasil o skate nasceu no berço do movimento da contracultura durante os anos da ditadura militar. Aquele “brinquedo” criado na Califórnia na década de 1960 se tornara uma ferramenta de libertação de amarras para muita gente. A prática do skate chegou a ser proibida, inconstitucionalmente, em alguns lugares da cidade de São Paulo em 1988. Pouco tempo depois, o então prefeito Jânio Quadros teve que revogar sua decisão.

Além das revistas, livros (como “A Onda Dura”, de Eduardo de Brito) e documentários (como “Vida sobre rodas” e “Dirty Money“) contam a história do skate no Brasil.

A música e as expressões artísticas urbanas estão intrínsecas no DNA do skate. O skate está inserido no contexto social das ruas, dos protestos e movimentos urbanos. E nesta mesma corrente vem o hip-hop nacional, ou simplesmente o rap nacional, como é popularmente conhecido.

E aí está a “coincidência”, ou confluência, se preferirem.

Rashid CemporcentoComo a revista contava com uma seção musical, em 2012, Marcelo Viegas (que era o editor da revista na época) me incumbiu de uma pauta: entrevistar o rapper Rashid. O músico tinha uma história com o skate e eu também iria abordar a questão da repercussão de seu primeiro EP. Essa foi uma das minhas primeiras colaborações para a revista impressa, publicada na edição #171 (leia aqui).

O tempo passou e eis que na última segunda-feira, dia 21 de março, um grande amigo me marcou em uma postagem no Facebook. A tal marcação foi em um post com uma música do Rashid, o mesmo rapper que entrevistei em 2012.

Na música “Futuro/No meio do caminho”, de seu primeiro álbum “A Coragem da Luz”, Rashid fala sobre a juventude periférica discriminada e faz referência ao Genocídio Armênio, mais precisamente na frase: “Mas eu sou o mal do milênio, poupe seu tempo, culpe meu gênio, esqueça que me proibiram até de respirar o mesmo oxigênio, igual ao Genocídio Armênio, isso o rap já cantou pro povo”.

Assista e ouça a canção de Rashid:

Ao fazer menção de que o rap já cantou o Genocídio Armênio, Rashid faz referência a rappers como Crônica Mendes que compôs em 2015 a canção intitulada “A Causa Armênia“, em parceria com o CNA – Brasil (clique aqui e assista).

O ponto aqui é que uma causa que pretende ser universal, de direitos humanos, transgerancional e transnacional, deve ouvir, respeitar e somar com as vozes das ruas, das juventudes de todas as periferias do mundo. Essas vozes chegam em corações em mentes que entidades, políticos e até mesmo o Estação Armênia não alcançam. E são essas vozes que vão fazer a diferença na nossa luta. Vozes das ruas que sabem o que é a injustiça e o esquecimento. Vozes que somam desinteressadamente às nossas na luta por justiça e verdade.

Getse Rashid! Getse Crônica Mendes! Getse cultura das ruas, de Yerevan a São Paulo!

Sobre o autor

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Jornalista de formação, é editor-chefe do site Estação Armênia.
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