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Um novo “Tebi Yerkir” e a eleição para Prefeitura de Yerevan

Ninguém questiona o fato de que a diáspora armênia teve um papel decisivo na manutenção da armenidade nos tempos que a Pátria-Mãe integrou o império soviético(1921-1991) e tem ainda hoje. Da mesma forma que não há descendente que ignore a importância da Armênia Soviética na história de nossa gente e obviamente a da República da Armênia nos nossos dias.

  Essa dicotomia, que gerou cisões e disputas, está prestes a ser substituída por um novo modelo de relações. As premissas principais desse novo modelo estão sustentadas por três pilares:

–       a emigração gigantesca dos últimos anos marcada pela falta de oportunidades e por privilégios inaceitáveis dados a nova oligarquia econômica;

–       a ausência de uma democracia plena e os sucessivos governos corruptos e distantes dos anseios da população;

–       a indignação dos setores progressistas da diáspora com essa situação e uma necessidade cada vez maior de interferir nos destinos do país;

Existe ainda uma outra variável que particularmente venho defendendo nos últimos anos e que mesmo por vias tortuosas vem se materializando: a República da Armênia é sim uma alternativa real e palpável para muitos armênios do conturbado Oriente Médio e para alguns compatriotas de outras regiões do planeta, por mais paradoxal que isso possa parecer.

Tenho algumas hipóteses pouco cientificas para esse movimento que arrisco dividir com meu leitor. A primeira é baseada nas raízes étnico-culturais. Os compatriotas do Oriente Médio, proletarizados nas últimas décadas, enxergam na Armênia de hoje a possibilidade de manter suas raízes acompanhada de uma inserção na vida econômica do país. A segunda hipótese é de cunho político-econômico. Os compatriotas de outras comunidades, não de hoje, vem buscando experimentar acanhadamente alternativas econômicas bem como a possibilidade de resgatar compromissos políticos e ideológicos com a Armênia.  

Assim fica claro que se a Armênia não é uma alternativa para os seus cidadãos que migram, inseridos em um circuito amplo de trabalhos temporários nas ex-repúblicas soviéticas, Europa e EUA, ela é uma alternativa, mesmo que incipiente, para aqueles que vem de fora e tentam de alguma forma reencontrar o lar nacional.

Talvez esses compatriotas, que vem da diáspora, sejam um dos fatores para fortalecer os ventos dos movimentos de cidadania que vem crescendo exponencialmente na Armênia, como já havia comentado em outros artigos.

As denúncias de fraudes nas eleições não param, inclusive no momento que estou escrevendo esse artigo, recebo mensagens e e-mails de dúzias de arbitrariedades nas eleições para a Prefeitura de Yerevan no domingo 5 de maio.

É dessa forma que ouso afirmar ao meu leitor que  o quebra-cabeça da política na Armênia ganhou uma nova peça quase imperceptível. Durante as eleições presidenciais de fevereiro último, em meio a crimes eleitorais gravíssimos, uma observadora da ONG Transparência Internacional, de origem armênia, Narine Esmaeli, foi agredida e ameaçada enquanto denunciava fraudes na zona eleitoral que fiscalizava. O fato se perdeu no noticiário em meio ao chafurdar vergonhoso do governo Sargsyan, mas não se perdeu nos círculos de engajamento político e principalmente entre os ativistas de direitos humanos, muitos deles, vindos da diáspora e que vem se inserindo na vida da Armênia nos últimos anos.

Veja abaixo o vídeo(em inglês) onde Narine denuncia a corrpução e a compra de votos.

As agressões contra Narine, catalisaram uma ação nas eleições para prefeitura que no mínimo chama a atenção. Mais de 100 observadores credenciados por órgãos internacionais de fiscalização são armênios da diáspora, fato inédito e que mostra uma nova articulação de forças na já complexa situação política do país. Essa missão de observadores armênios da diáspora fortalece a luta por democracia e escancara o interesse por mudanças no país. A diáspora está chegando cada vez com mais força e a Armênia vai ter que entender isso. Está em andamento o “Tebi Yerkir”. 

*James Onnig Tamdjian é colunista do Estação Armênia e suas opiniões não refletem necessariamente às do portal.

Sobre o autor

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Professor de Geografia e Geopolítica. Fleumático, colérico, sanguíneo e melancólico.

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